Por: (Arte Metal)

Com o lançamento do aguardado debut, Sanguine, a banda carioca Indiscipline finalmente marca seu território e agora colhe os frutos que foram semeados desde o lançamento da primeira demo In My Guts (2014). Sementes estas geradas desde a fundação da banda em 2012. Para falar do novo trabalho e o que a banda trará no futuro, a guitarrista Maria Fernanda Cals conversa com o Portal do Inferno. O grupo é completado por Alice (vocal/baixo) e Ale de la Veja (bateria).

Indiscipline
Indiscipline

Com a boa repercussão da demo In My Guts (2014) e também do trabalho ao vivo Live At Toca (2015), além do trabalho de pré-divulgação do debut, Sanguinea foi um disco aguardado pelo público. Essa ansiedade também tomou conta da banda e/ou gerou alguma pressão na hora de compor e gravar o disco?
Maria Cals: Houve sim uma pressão interna para compormos e gravarmos logo o Sanguinea. Já tínhamos dois outros trabalhos, mas ainda faltava o full-lenght. Seria fácil nos acomodarmos, então lutamos contra isso. Cerca de seis meses depois do lançamento do Live at Toca, começamos a compor o Sanguinea. Fizemos um planejamento, nos estipulamos prazos e trabalhamos para cumpri-los. Mesmo assim atrasou um pouco, mas tudo bem. Ficou o aprendizado de MUITAS coisas. No próximo (sim, já pensamos no próximo!) levaremos tudo em consideração para fazermos ainda melhor.

E como foi esse processo de composição? Há alguma fórmula especial que a banda utiliza na hora de compor?
Maria Cals: O processo é sempre o mesmo: eu componho um riff e logo depois, em cima disso, monto um “esqueleto” estrutural. Aí a Alice insere a linha de voz e geralmente usamos uma letra que já foi feita. Às vezes eu escrevo, às vezes ela, às vezes a quatro mãos, ela ou eu temos uma ideia e a outra trabalha nisso. Daí ensaiamos no estúdio com a Ale, que vai estudando a linha de bateria e modificando ao jeito dela (ela curte muito ter uns espaços pra “improvisação”, principalmente com viradas e etc.).
A cada etapa algo muda, e em alguns casos precisamos mudar tudo. Foi o que aconteceu com a Higher, uma das músicas do Sanguinea. Era de um jeito, inclusive tocamos a música nessa primeira versão em alguns shows. Porém, algo (que não sabíamos o que) ainda não nos satisfazia ali, então mudamos tudo. Linha de voz (que é uma coisa super difícil de fazer, porque a melodia é sempre o mais grudento de tudo), estrutura… Mas que bom que o fizemos. Ela nos agrada muito mais agora.

A mescla entre o Metal e o Hard Rock soa quase que perfeitamente equilibrada na sonoridade do disco. Vocês se preocupam com isso, em não pender pra nenhum lado ou deixar fluir naturalmente?
Maria Cals: Na Indiscipline, a gente sempre compõe da forma mais natural possível, sem pensar que a música tem que soar de um jeito ou de outro. Claro que as nossas influências aparecem, mas não é algo racionalizado. Acho que por esse motivo a gente não tenha um “estilo” muito bem definido. A banda transita entre o Metal, o Hard Rock, o Punk e o Grunge. É algo só nosso, e do qual gostamos muito.

Aliás, de onde vem essa influência Metal e Hard que a banda possui?
Maria Cals: Já estamos na casa dos 30 e poucos anos e ouvimos Rock e Metal há muito tempo. Sempre tivemos bandas e procuramos acompanhar tanto a cena underground nacional quanto “mainstream” do Rock e Metal.

Outra coisa que chama atenção no trabalho é que as melodias contrastam com certa agressividade, principalmente do trabalho de guitarras no álbum. Seria essa a energia que a banda passa em sua sonoridade?
Maria Cals: Eu diria que a marca registrada da Indiscipline é justamente essa energia – o fato de as guitarras serem pesadas e agressivas enquanto a melodia oferece um contraponto com uma certa suavidade. É algo que surpreende o ouvinte e um dos fatos mais comentados sobre a banda.

Falando em melodia, os vocais de Alice D’Moura complementam essa faceta melódica da banda, mostrando naturalidade e técnica, além de linhas que pegam o ouvinte desde a primeira audição do álbum. Fale-nos um pouco a respeito disso.
Maria Cals: Sim, a Alice é uma excelente cantora, afinadíssima e com um timbre único e extremamente belo. Quando estávamos gravando as demos do Sanguinea, eu e Felipe (Eregion) ouvíamos as músicas e pensávamos: “porra, essa sacana da Alice tem uma voz muito bonita mesmo”. Toda a técnica dela é empírica, pois ela nunca fez aulas formais de canto. No Sanguinea tivemos ainda a valorosa ajuda do Gus Monsanto com a produção vocal e procuramos ir além do que já havia sido feito no In My Guts e também no Live at Toca. Acredito que conseguimos.

Indiscipline
Indiscipline

O álbum todo mostra uma energia fora do normal e músicas como Fear in Your Eyes, Burning Bridges, Losing My Mind, Higher e Poison se destacam. Essa veia contagiante da banda é algo com que vocês se preocupam ou soam naturalmente? Aliás, quais faixas vocês destacariam?
Maria Cals: É natural sim. No máximo o que acontece é compormos a música em um certo andamento, e então, nos ensaios, pensarmos – e se acelerarmos/diminuirmos isso aí? É bem curioso como acontece. Com a Losing my Mind mesmo, por exemplo, rolou. Era uma música mais lenta e um amigo baterista sugeriu que a tocássemos mais rápido. Fizemos isso e ficou ótimo! Aí, quando fomos gravar, o Eregion, que produziu o disco, sugeriu que a música aparecesse no disco mais cadenciada, “pesadona”. Foi o que fizemos.

Aliás, Fear in Your Eyes ganhou videoclipe e saiu como música de trabalho. Como e por que a escolheram para tal?
Maria Cals: Achamos que Fear in your Eyes de certa forma resume o que a Indiscipline é musicalmente. O fato de a letra falar de algo presente na vida de muitas mulheres, que é o abuso sexual, também contou a favor, além do fato de ela ser, até então, totalmente inédita. Para o primeiro clipe, queríamos algo bem pra frente, andamento acelerado. Havia duas candidatas: Fear in your Eyes e Take it or Leave it. Optamos pela primeira, pois a Take it or Leave it já constava do nosso registro anterior (Live At Toca), muito embora a versão do Sanguinea seja ligeiramente diferente (e, na minha opinião, melhor).

E como foi idealizado e o trabalho em cima do clipe de Fear in Your Eyes?
Maria Cals: Contatamos a Cíntia Ventania, baixista das bandas Scatha e Severa, que também é videomaker e já tinha trabalhado com a gente em outra ocasião, mas fazendo fotos. Na época, ficamos muito satisfeitas com o resultado, então resolvemos repetir a dose. Também já tínhamos visto o portfólio de vídeos dela e gostamos muito. Ela mora no Canadá, mas por sorte passaria alguns meses aqui no Brasil de férias, portanto nós planejamos para fazer esse clipe enquanto ela estivesse aqui. Ela teve várias ideias legais e contribuiu muito com a produção toda. Algumas coisas inusitadas também aconteceram. Por exemplo, quando chegamos na locação da filmagem, havia várias molduras de quadros espalhadas. A Cíntia deu a ideia de pendurarmos elas de forma que ficasse um ambiente meio disfuncional, o que contribuiu muito com o resultado estético do clipe e também conversa com a letra da música, que, como já falei anteriormente aqui, aborda o abuso sexual.

A produção do disco ficou por conta de Felipe Eregion (Unearthly) sendo que a masterização e mixagem foram realizadas por Arkadiusz “Malta” Malczewski (Behemoth, Decapitated, Hate, Black River), em Varsóvia (Polônia), no Sound Division Studio. Como viabilizaram o trabalho e como foi trabalhar com eles? O resultado final foi o objetivado?
Maria Cals: Foi a segunda vez que trabalhamos com o Eregion (a primeira foi no In My Guts). Além de ele já conhecer a banda e acompanhar de perto todo o processo de pré-produção (pois, para quem não sabe, ele também é meu marido), confiamos muito na opinião e experiência dele. Ele é sempre muito sincero e exige de nós o que deve ser exigido. Não foram raras as vezes que brigamos ou ficamos de saco cheio dele, mas depois vimos que ele tinha razão (risos). É muito importante para nós termos uma pessoa que não nos poupa simplesmente por ser próximo. Tentamos evitar  a “zona de conforto”. O Malta foi uma sugestão do próprio Felipe, que conhece um dos caras que trabalham com ele. Por sorte, entre uma turnê aqui e uma gravação ali, ele teve como encaixar a mix e a master do Sanguinea. Foi também excelente, pois ele fez um trabalho além do “básico”, procurou entender nosso som, identidade e foi sempre muito profissional e sincero.

O disco foi lançado pela Shinigami Records. Como surgiu essa oportunidade e como é trabalhar com um dos maiores selos e distribuidores do Metal nacional?
Maria Cals: Realmente, é uma honra trabalhar com a Shinigami Records! Já os conhecíamos e sabíamos do trabalho super profissional do selo. A oportunidade surgiu através de um contato que a No Class Agency, que nos representa, fez com eles. Espero que ainda tenhamos várias reprensagens do Sanguinea.

E como o público tem recebido Sanguinea até então?
Maria Cals: O público é sempre muito generoso com a Indiscipline. Nos acolhem de braços abertos e reconhecem o nosso trabalho e esforço. Não foi diferente com o Sanguinea. Foi um disco muito aguardado (e ainda é na verdade, porque por enquanto só temos a versão física do disco – ele sairá em breve em todas as plataformas digitais). Fizemos ainda um projeto de financiamento coletivo para ajudar na gravação do disco e tivemos sucesso, o que nos deixou muito felizes.

Além da divulgação do trabalho, quais os planos da banda para 2017 em questão de shows, algum lançamento a mais, clipes, enfim…?
Maria Cals: Temos muitas coisas planejadas para 2017. Tem um clipe que deve sair até maio, e depois devemos lançar pelo menos mais dois no segundo semestre. Temos outros vídeos engatilhados também. Fora isso, também já começamos a pensar naquele que será o sucessor de Sanguinea, e queremos tocar no Brasil e fora dele também!

 Muito obrigado pela entrevista, parabéns pelo trabalho. Podem deixar uma mensagem final aos leitores.
Maria Cals: Obrigada você pela oportunidade! Agradecemos também a quem acompanha a banda. Vocês são foda! Nos vemos na estrada! /,,/

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Escrito por

Vitor Franceschini

Jornalista graduado, editor do Blog Arte Metal.