O ano mal havia começado e o Krisiun caiu na estrada para uma nova turnê europeia, dessa vez ao lado do Kataklysm e do Fleshgod Apocalypse. O giro de quase 40 shows está sendo muito bem comentado no Velho Continente e chega ao fim nesta semana. Depois, os irmãos Moyses Kolesne (guitarra), Max Kolesne (bateria) e Alex Camargo (baixo e vocal) retornam ao Brasil para alguns shows e, em seguida, embarcam para os Estados Unidos e Canadá para outra turnê intensa, em março e abril, dessa vez com o Destruction – levando para outras partes do mundo uma combinação vitoriosa apresentada no último Rock in Rio.

Durante a passagem da banda por Londres, em janeiro,, a repórter Fabiola Santini conversou com Moyses sobre passado, presente e futuro do Krisiun. Também falaram sobre a cena death metal brasileira, as bandas que merecem destaque e até sobre a vida familiar. Confira essa entrevista exclusiva.

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Versão em português

Portal do Inferno: Bem-vindo a Londres, Moyses! É ótimo ter o Krisiun de volta. Vocês tem representado a cena death metal undergourd com orgulho desde 1990. Vamos começar falando sobre o presente: como está sendo essa atual turnê, Waiting for the End to Come, com os italianos do Fleshgod Apocalypse e os canadenses do Kataklysm? Três importantes bandas de três países diferentes.
Moyses: Essa turnê está indo muito bem. Tivemos três shows com ingressos esgotados até agora, o que significa que essa mistura das bandas está agradando os fãs (NOTA: a entrevista foi feita em 13 de janeiro, ainda o quinto show da turnê). Cada uma das bandas tem sua própria personalidade, mesmo que no final todos toquemos death metal. O Fleshgod Apocalypse tem uma pegada sinfônica, muitos fãs novos estão vindo para vê-los e esta é uma banda que acho que logo será grande. O Kataklysm é uma banda clássica de death metal, eles estão aí há muitos anos e têm muitos seguidores. E nós temos os nossos fãs fieis, mais do tipo old school. Essa turnê uniu todos os tipos de pessoas, é muito bom, está muito bem organizada e todo mundo se dá bem, como em uma grande família. Estou muito feliz.

P.I.: De volta ao passado no Brasil: seu álbum de estreia, Black Force Domain, de 1995, marcou uma entrada triunfante na comunidade underground do death metal. O que você acha desse álbum agora, depois de tantos anos?
Moyses: Naquela época, não tínhamos nenhum dinheiro, nenhum orçamento para fazer um bom álbum. Não haviam produtores no Brasil que entendessem muito bem o que estava acontecendo no death metal. Foi muito difícil pra gente, tivemos apenas três dias para fazer aquele álbum e, sem dinheiro, foi tudo na base da coragem, convicção e foco no que estávamos fazendo. Não tínhamos uma gravadora para nos apoiar, não tínhamos chances e éramos músicos inexperientes. Foi difícil, mas, apesar disso, Black Force Domain se tornou um disco cult na comunidade death metal. Quando você o ouve, percebe que é muito cru e que há muitos erros, mas, por outro lado, há muita convicção, muito desejo de fazer aquele tipo de música, embora estivéssemos lutando contra todas as probabilidades. De alguma forma, conseguimos fazê-lo e, hoje, após quase 20 anos, a Century Media está relançando-o em vinil e vendeu muito bem. Muitas bandas não gostam de relançar coisas do começo, pense no Pantera, Slayer e Morbid Angel. Mas fomos corajosos o suficiente para deixar o nosso primeiro disco do jeito que ele é, sabe? E temos orgulho dele.

Moyses Kolesne (foto: Fabiola Santini)
Moyses Kolesne (foto: Fabiola Santini)

P.I.: O Krisiun já lançou oito álbuns até hoje.
Moyses: … sim, e alguns EPs aqui e ali.

P.I.: Exato. Quais são suas expectativas agora sobre o futuro da banda?
Moyses: Ainda temos muito a fazer. Se pensarmos na minha banda preferida, o Judas Priest, o melhor álbum deles, Defenders of the Faith, foi o oitavo. E o Black Sabbath, eles continuam criando coisas novas depois de muitos discos, o mesmo vale para o Metallica e o Slayer. Se você continua fazendo novas coisas como uma banda ativa, você sempre terá uma oportunidade. Mas se você para a banda por muito tempo, algumas param por três ou quarto anos, você entra em uma zona perigosa já que as pessoas podem esquecê-lo facilmente. O Krisiun é uma banda muito ativa, ainda temos muita energia para fazermos tudo isso e temos o apoio de uma boa gravadora: acabamos de assinar um novo contrato com a Century Media. Agora, estamos a procura de um produtor para o novo álbum, estamos ansiosos e com muita energia.

P.I.: Os shows ao vivo também mantêm a paixão viva para o Krisiun.
Moyses: Sim! É uma questão de estar mentalmente e fisicamente saudável, se você alcança esse equilíbrio, consegue fazer tudo, não importa o quão antiga a banda é; o fogo se renova sozinho. Ainda gostamos de fazer isso e amamos. As pessoas precisam ver isso, porque se você, como um músico, só faz por dinheiro, o que não é bem assim, não vai dar certo. Para nós, é importante estarmos saudáveis, nos alimentando bem e praticando esportes, porque se você está em má forma, fica difícil fazer um bom show. Para tocar metal é preciso estar com a energia carregada todos os dias. E não é apenas na questão do corpo, é preciso manter uma atitude positiva na sua mente. É como pensamos e como tentamos viver, de uma forma positiva.

P.I.: Podemos falar sobre o próximo álbum do Krisiun ou ainda é um pouco cedo?
Moyses: Eu prefiro esperar um pouco mais, logo teremos novidades. Estamos procurando por algo diferente em termos de produção: trabalhamos muito bem com o produtor dos últimos três álbums, mas acho que é hora de mudar um pouco, não queremos que o próximo disco soe da mesma forma. Terá uma produção especial, com certeza.

Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)
Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)

P.I.: Kreator, Sodom e, é claro, Morbid Angel sempre foram mencionados entre suas principais influências. Você concorda?
Moyses: Naquela época, acho que a gravadora fez essa associação com o Kreator. Eu os amo, mas posso te dizer que nunca nos sentimos influenciados por eles. Também amamos o Sodom, mas nossa maior influência ainda é o Slayer, o Sepultura, o Morbid Angel, o Black Sabbath e, é claro, o Iron Maiden. São músicas as quais ouvia quando cresci no Brasil, músicas que nos fizeram decidir tocar death metal e seguir por essa direção.

P.I.: É difícil encontrar hoje em dia o nível de originalidade que essas bandas tinham e ainda têm. O que você acha da cena death metal atual?
Moyses: Há muitas bandas novas que eu gosto, mas não consigo lembrar agora enquanto conversamos… se eu fosse para casa agora e olhasse no meu computador, tenho certeza que teria diversos nomes para mencionar. No momento, posso falar de algumas bandas do Brasil como Claustrofobia, Torture Squad, Lacerated and Carbonized, Funeratus. Gosto de todas elas, não porque são meus amigos, mas porque são bandas realmente boas.

P.I.: Então, parece que a cena death metal do Brasil é bem grande.
Moyses: Sim, é grande! Tivemos a chance de tocar no último Rock in Rio, que é um dos maiores festivais do mundo. Tocamos ao lado do Slayer, Iron Maiden e Metallica. Tivemos um público muito grande, sabe? O Rock in Rio é um grande festival, com palcos bons, bem ao lado da praia, é lindo. É incrível e vale à pena. Há pessoas de todas as partes do mundo, da Ásia aos Estados Unidos. É um festival cult, como o Wacken Open Air, só que maior.

P.I.: O Krisiun é um trio há muitos anos. Acho que é o único caso em que três irmãos estão numa banda e seguem há tanto tempo. Como a sua família foi vendo o Krisiun ao longo do tempo?
Moyses: É apenas a nossa mãe agora, nosso pai faleceu. Ele realmente gostava de nós e minha mãe tem muito orgulho; ela sempre está no Facebook publicando coisas sobre o Krisiun e nos apoiando. Ela tem 61 anos e recentemente descobriu a internet e como se manter conectada nas mídias sociais. Muitos fãs do Krisiun descobriram que ela é a nossa mãe. Eu disse para ser cuidadosa, porque tem muitos cuzões por aí que podem querer tirar vantagem, sabe?

Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)
Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)

P.I.: É verdade, nunca se sabe.
Moyses: Quando alguns fãs descobrem que a mãe de alguns músicos está no Facebook, eles tentarão conseguir coisas pessoais e fotos; ela precisa ser cuidadosa e está tendo a cautela de não adicionar todo mundo, ela é bem discreta. E agora temos um irmão mais novo, ela adotou uma criança.

P.I.: Sério? Isso é incrível. Você pode falar sobre isso?
Moyses: Sim, claro. Ele tem cinco anos.

P.I.: Ele deve ser uma das crianças mais felizes do mundo por ter três irmãos como você, Alex e Max!
Moyses: (risos) sim, acho que sim!

P.I.: E ele deve ser bastante paparicado também…
Moyses: Sim, por todos nós e por nossa mãe. É uma criança legal. Não é que a minha mãe estivesse tentando adotar, sabe, na idade dela, ela tinha outras coisas para cuidar. Mas simplesmente aconteceu. Houve algum problema que os pais não poderiam criar o garoto, então colocaram-no para adoção. Uma vez, alguém da Europa veio e nossa mãe decidiu adotá-lo para mantê-lo no Brasil. Ela tem um coração enorme e temos muito orgulho dela, assim como ela tem de nós. Ela até apareceu na Decibel Magazine no ano passado, como parte de uma matéria de “mães do metal”.

P.I.: Ela é, de fato, uma “mãe do metal”.
Moyses: … ah sim, ela é. Às vezes ela vai aos nossos shows, ela é de verdade!

P.I.: Moyses, obrigada pela entrevista. Há algo que queira acrescentar para seus fãs brasileiros?
Moyses: Eu só quero agradecer a todos os fãs. E eu realmente gostei da entrevista, me diverti.

English version

Portal do Inferno: Welcome to London Moyses, it’s great to have Krisiun back. You have been representing the death metal underground scene with pride since 1990. Let’s start talking about the present: how is it going with this current tour, Waiting for the End to Come together with Italian Fleshgod Apocalypse and Canadian Kataklysm? Three significant bands from three different countries.
Moyses Kolesne: This tour is going really well. We have had three sold out shows so far which means the mix of the bands in the package is working well for the fans. Each of the bands in the bill has its own personality, even if we all play death metal in the end. Fleshgod Apocalypse have their symphonic approach, a lot of new fans are coming to see them as they are an upcoming band which is going to be really big I guess. Kataklysm is a classic death metal band, they have been around for so many years, they have a huge following. And we have our die hard fans, more kind of old school. This tour brings together all kind of people, it’s really good, it’s so well organized and everybody is getting along, like in a big family. I am pretty happy.

P.I.: Going back to your past hailing from Brazil: your debut album, Black Force Domain was released in 1995 and marked your triumphant entrance in the death metal underground community. How do you feel about your first full-length now, after so many years?
Moyses: Back in those days, we did not have any money, any budget to make a good record. There were no producers in Brazil who understood really well what was going on in death metal. It was very tough for us, we only had three days to make that record and without any money, everything was about courage, conviction and focus in what we were doing. We had no label to support us, we had no chances and we were inexperienced musicians. It was hard, but nevertheless Black Force Domain became a cult death metal record in the underground community. When you listen to it, you will notice it’s very raw and there are lots of mistakes in it, but on the other hand, there is a lot of conviction, a lot of desire to make that kind of music, even though we were fighting against all odds. Somehow we manage to make it and now after almost twenty years Century Media is re-issuing it on vinyl and it sold really fast. Lots of bands do not like to put out very early stuff, think of Pantera, Slayer and Morbid Angel. But we were brave enough to leave our first record the way it is you know? And we are proud about that.

Moyses Kolesne (foto: Fabiola Santini)
Moyses Kolesne (foto: Fabiola Santini)

P.I.: Krisiun released eight full lengths altogether.
Moyses: …Yes, with few EPs here and there…

P.I.: Exactly. What are you views now on the future of the band?
Moyses: We still have a lot to deliver. If you think about my favourite band, Judas Priest. Their best album, Defenders of the Faith was their eight album. And Black Sabbath, they kept creating new stuff after so many records, same goes for Metallica and Slayer. If you keep delivering good stuff as an active band, you will always have a chance. But if you break the band for a long time, some bands stops for three-four years, you really start getting into a dangerous zone as people can easily forget about you. Krisiun is a very active band, we still have a lot of energy to do all this and we still have a good support from the record label: we just signed a new contract with Century Media. Now we are looking for a new producer for the new album, we just look forward with a lot of energy.

P.I.: Live shows are also keeping the passion alive for Krisiun.
Moyses: Yeah! It’s a question of staying both mentally and physically healthy, if you reach this balance you can keep doing all of this not matter how old your band is, the fire keeps renovating itself. We still like to do it and we love it. People need to see this because if you as a musician in a band are out there only for the money, which is not that much anyway, it does not work. For us it’s important to stay healthy, eating well and practicing sports because if you are in a bad shape, it becomes really hard to put out a show. To play metal you have to be full of energy every day, you need it. And it doesn’t come just from your body, you also need to keep a positive attitude in your mind. That’s how we think, and how we try to live, in a positive way.

P.I.: Can we talk about the next Krisiun album or is it a little premature?
Moyses: I’d rather wait a bit more, there will be some news coming. We are looking for something different in terms of production: we worked really well with the producer of the last three records but I think it’s time to change a little bit, we do not want the next record to sound the same. There will be a signature production, for sure.

Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)
Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)

P.I.: Kreator, Sodom and of course Morbid Angel have always been named amongst your main influences, would you agree?
Moyses: Back in time, I think it was the label that created the association to Kreator. I love them but I can tell you that we have never felt really influenced by them. We also love Sodom but our main influences are still Slayer, Sepultura, Morbid Angel, Black Sabbath and of course Iron Maiden. Music I grew up with in Brazil, music that made us decide to play death metal and follow this direction.

P.I.: It’s hard to find today the level of originality that these bands had and still have. What do you think about the current death metal scene?
Moyses: There are lot of new bands that I like, but I cannot really get them in my mind now as we speak…If I go home now and start looking into my computer, I am sure there will be several names to mention. At the moment I can think about few bands from Brazil like Claustrofobia, Tortured Squad, Lacerated and Carbonized, Funeratus. I like all of them, not because they are my friends but because they are really good bands.

P.I.: So it looks like the death metal scene in Brazil it’s still pretty big.
Moyses: It’s big yes! We had the chance to play at the last Rock in Rio, which is one of the biggest festival in the world. We played alongside Slayer, Iron Maiden, and Metallica. We had such a huge crowd you know? Rock in Rio it’s a great festival, nice stages, right at the side of the beach, it’s beautiful. It’s amazing and totally worth it. There are people from all over the world attending, from Asia to the USA. It’s a cult festival like Wacken Open Air but bigger.

P.I.: Krisiun has been a trio for many years now. I think it’s unique that three brothers can be in a band and keep it going for so long. How has your family been perceiving Krisiun over the years?
Moyses: It’s only our mother now as our father passed away. He really liked us and my mother is very proud of us, she is always on facebook posting about Krisiun, supporting us. She is 61, she only recently discovered internet and how to get connected within social medias. Lots of Krisiun fans found out that she is our mother. I told her to be careful though, because there are lot of scumbags out there that may take advantage you know?

Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)
Krisiun ao vivo em Londres (foto: Fabiola Santini)

 

P.I.: It’s true, you never know.
Moyses: Once some fans find out that the mother of some musicians is on facebook, they will want to get personal stuff and pictures, she has to be careful and she is taking care of not being friend to everyone, she taking a low profile. And now we have a young brother, she adopted a kid.

P.I.: She did? This is remarkable. Are you ok to share this?
Moyses: Yes of course. The kid is 5 years old.

P.I.: He must be one of the happiest kid in the world to have three bothers like you, Alex and Max!
Moyses: (laughs) yeah, I think so!

P.I.: And he must be spoiled a lot…
Moyses: Yes, by all of us and by our mother. He is a nice kid. It was not that my mother was trying to adopt, you know at her age, she has other things to take care of in her life. But it just happened to her. There was a problem with some of her relatives who could not raise that kid so they decided to give him for adoption. Once someone from Europe came forward, our mother decided to adopt him, to keep him in Brazil. She has a big heart, we are very proud of her the way she is proud of us. She even appeared in Decibel magazine last year, as part of their “Metal Mothers” feature.

P.I.: Well she is indeed a “Metal Mother”.
Moyses: … oh yeah, she is. She often comes to our shows, she is for real!

P.I.: Moyses, thank you for the interview. Is there anything else you would like to add for your Brazilians fans?
Moyses: I just wanted to say thank you to all the fans. And I really appreciate the interview, I had a good time.