Jaromeř, uma cidade bastante pitoresca localizada a cerca de 130 km a leste de Praga, foi sede, mais uma vez, de um dos mais aguardados festivais de verão da Europa. O Brutal Assault aconteceu na parte interna das estranhas muralhas da Antiga Fortaleza de Josefov que, a cada edição do evento, se torna um local único para os shows, recebendo um line-up imperdível e dando às boas-vindas a uma multidão de fãs. Os headbangers que fizeram a 19ª edição ser mais uma a ser lembrada vieram de todas as partes da Europa e além, com muitos ostentando orgulhosamente suas bandeiras dos Estados Unidos, Austrália, Brasil, México e Malásia, tudo em nome da diversão durante os quatro dias de shows ao vivo autênticos.

Dentro da Fortaleza haviam dois palcos principais (Metalshop e Jägermeister) e um palco menor, em um local fechado (Metalgate). A atmosfera era simplesmente encantadora durante o dia e ganhava ainda mais charme conforme as horas passavam, quando o por do sol de um dos lados das muralhas ardia em chamas e iluminava tudo, como se a plateia estivesse em um real campo de batalha, onde os vibrantes thrash, black, death e hard-core detonaram sem parar.

Manegarm (foto: Fabiola Santini)

Os pacotes oferecidos para o evento foram muito atrativos e com preços muito bons. O camping estava bem posicionado, fácil de ir e voltar da Fortaleza, com a possibilidade de incrementar para o VIP. Para aqueles que procuravam um conforto extra, o Brutal Assault recomendou dois hotéis, Cernigov e Alexandria, localizados em Hraadec Králové (a cerca de duas horas de trem de Praga), facilmente conectado ao local do festival com um traslado de 40 minutos de ônibus (a passagem de volta para cada dia estava inclusa no valor do hotel). O buffet de café da manhã não poderia alimentar melhor os headbangers: o valor valia à pena e permitia que os fãs começassem cada dia com as baterias recarregadas. Durante o da, haviam muitas barracas de comida, bem posicionadas entre os três palcos, onde até mesmo os vegetarianos e veganos podiam esbanjar até o anoitecer. E a mundialmente famosa cerveja tcheca? É tudo verdade o que as pessoas dizem! É muito boa e incrivelmente barata pela sua qualidade. Ótimas bandas, ótima cerveja e comida, um luar deslumbrante visto da Fortaleza: não faltou nada nesse festival. E, então, a 19ª edição do Brutal Assault começou.

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Dar o pontapé inicial com duas lendárias bandas como Terrorizer e Venom não poderia ter sido melhor: o primeiro dia colocou os ânimos no alto para os dias que estavam por vir. Ver Conrad Thomas Lant (a.k.a. Cronos) ao vivo e arrasando no palco dá a impressão de que o tempo parou em 1981, quando o poderoso Venom tomou a, então, nova comunidade metal com a sua obra de arte Welcome to Hell. Enquanto Black Metal alimentava a plateia voraz com um fogo imortal que Cronos parece que nunca perdeu, a energia na Fortaleza atingiu níveis avassaladores.

Onslaught (foto: Fabiola Santini)

O Pentagram Chile, de Anton Reisenegger, manteve a adrenalina fluindo no segundo dia, agitando a todos com seu autêntico, mais rápido que o inferno, death/thrash metal. Com o esquadrão japonês do Church of Misery, as coisas deram uma reviravolta, já que o intoxicante doom da banda encantou o público. Born to Raise Hell (Richard Speck) foi, definitivamente, o destaque do repertório. A tocha foi passada para os super thrashers britânicos do Onslaught. Assim como no recente show na London’s Academy Islington, com ingressos esgotados, a performance dessa noite não foi uma surpresa: enquanto os mosh-pits explodiam em uma velocidade incontrolável durante o set, era incrível notar como esses músicos não perderam nem um pouco de sua energia desde a sua estreia, em 1983.

Obituary (foto: Fabiola Santini)

A primeira combinação letal de death/grind veio com o Misery Index, de volta à ativa com um maravilhoso álbum novo, The Killing Gods. Mais uma vez, os riffs agressivos de Mark Kloeppel de destacaram em grande estilo. O set dos suecos do Manegarm veio, de certa forma, um pouco estranho apesar de suas habilidades indiscutíveis: talvez teve a ver com a grande ansiedade por outra banda lendária que estava por vir, o Crowbar. Às 18:10, em ponto, finalmente chegou a hora de dar as boas-vindas a um dos esquadrões do death metal mais admirados do planeta, o Obituary. A presença de palco de Trevor Perez é tão única quanto imponente, faixas como Slowly We Rot e Intoxicaded foram tocadas com grandeza, como sempre, graças aos riffs implacáveis de Perez. O frontman John Tardy se reafirmou como um dono de uma das mais potentes vozes da noite: o próximo álbum, Blood, que será lançado em 27 de outubro, é imperdível. O Obituary, definitivamente, está de volta com força total.

Slayer (foto: Fabiola Santini)

De Portland, o Red Fang adicionou ao maravilhoso line-up do dia uma pitada de alegria, com seu som cheio de fusões, sempre sendo bem recebidos por onde quer que passem. Os veteranos do Slayer foram os primeiros headliners do dia: faixas clássicas como Angel of Death e Mandatory Suicide confirmaram que a dupla diabólica Araya/King ainda é uma das potências ao vivo mais poderosas por aí. O black metal do Inquisition atraiu uma grande porção de uma plateia insaciável: os fãs entraram rapidamente para a área do Metalgate para garantir que não perderiam uma nota sequer da malévola Force of the Floating Tomb, a faixa que abriu o set da noite e, também, a faixa que abre o último álbum da banda, Obscure Verses of the Multiverse.

Children of Bodom (foto: Fabiola Santini)

De volta aos palcos principais, os finlandeses do Children of Bodom e os suecos do Katatonia iniciaram a contagem regressiva para o segundo dia de festival. Mais tarde, após alguns problemas técnicos, eles não poderiam ter feito um melhor trabalho como headliners, apesar do fato de os set lists de ambos terem sido reduzidos devido ao atraso no início dos shows. Para muitos, era hora de dizer boa noite, mas não para os incansáveis headbangers. Os noruegueses do Khold certificaram de que ainda havia muito bom black metal para aproveitar até tarde da noite.

Fleshgod Apocalypse (foto: Fabiola Santini)

O terceiro dia começou com a grande potência do thrash exibida com muito talento pelos americanos do Skeletonwitch. O orgulho italiano sobe quando o Fleshgod Apocalypse toma conta do magnífico palco, bem equipado com explosões sincronizadas e luzes surpreendentes. Assim como eles fizeram no Wacken, uma semana antes, o esquadrão do metal sinfônico provou ser um dos melhores shows do dia, onde a potência das palavras, a definição e a superioridade se fundem com perfeição. Os americanos do Six Feet Under também fizeram, sem dúvida, um dos melhores shows do dia. Os urros de Chris Barnes estão potentes e fortes como nunca, seu set é envolvente em uma sequência de riffs cativantes.

Enthroned (foto: Fabiola Santini)

Os vikings suecos do Amon Amarth atraíram uma enorme plateia, todos prontos para serem brutalmente seduzidos pelo seu glorioso set e pelo fogo de seus dragões. War of the Gods foi impressionantemente cantada em uníssono com uma força agressiva. Os belgas do Enthroned não poderiam ser melhor descritos como uma máquina lubrificada entregando o black metal banhado em ácido na sua melhor forma. Uma pena que os poloneses do MGLA sofreram um atraso em seu set, o que não nos permitiu acompanhá-lo por inteiro. Mas, entrar em desespero não é uma opção: correndo de volta para a área do palco principal, chegava a hora de ser destruído pelo industrial em sua perfeição do Combichrist: sua performance definitivamente deu a dica de que grandes coisas estavam por vir, já que poucas pessoas conseguiriam dormir nessa noite, graças a esse set poderoso.

Impaled Nazarene (foto: Fabiola Santini)

O quarto dia começou em estilo thrash com os alemães do Dew Scented, cuja força maior estava em total contraste com a textura sofisticada e cativante dos noruegueses do Manes. No entanto, os finlandeses do Impaled Nazarene elevaram as temperaturas novamente, o público os recebeu de braços abertos e pareceu gostar muito do seu som agressivo e diabólico. Os americanos do August Burns Red e do Sick of it All elevaram as coisas com seu hard-core, com uma performance vocal incrível do frontman do Sick of it All, Lou Koller: claramente, ele ainda tem muita força.

Sodom (foto: Fabiola Santini)

O lendário Sodom jogou riff após riff de obras de arte, do thrash na medida certa, como pede a tradição, e começaram mais mosh-pits infernais. Faixas como The Saw Is the Law e Sodomy & Lust soaram mais pesadas e mais poderosas do que nunca. Os shows passaram e chegou a hora de dar as boas-vindas ao orgulho tcheco do Krabathor, que fez o perfeito aquecimento para o show do Down, de Phil Anselmo, que nessa noite não estava em sua melhor forma, talvez por causa das inúmeras interrupções. Ânimo e energia foram restabelecidos com os noruegueses do Satyricon. À medida em que seu set se desenvolveu no seu tradicional black and roll, ficou claro que eles eram, ainda, uma das bandas mais aguardadas do festival. É perfeição pura e a versão executada na noite de Now, Diabolical foi simplesmente sublime.

My Dying Bride (foto: Fabiola Santini)

Entre todas as bandas do planeta, uma que definitivamente merece a coroa de Poderosa Headliner é a inglesa My Dying Bride, que conquistou o público com sua mágica perfeita. Os vocais de Aaron Stainthorpe estão mais sedutores do que nunca, From Darkest Skies e She Is the Dark são simplesmente de tirar o fôlego. Os holandeses do Hail of Bullets tiveram a honra de fechar o festival e eles fizeram um grande trabalho, como sempre: riffs pesados e solos épicos são a melhor forma de abraçar as novas amizades que nasceram dentro daquelas muralhas da Fortaleza mágica nesses últimos quatro dias.

E 2015 vai ser um ano muito especial para o Brutal Assault, já que marca o seu 20º aniversário: as primeiras bandas anunciadas são a brasileira Sepultura e a canadense Gorguts (que, infelizmente, teve que cancelar a sua participação nesse ano: que bom que eles mantém suas promessas!). As preparações já começaram, fique de olho nos futuros anúncios no site do Brutal Assault ou na página do Facebook. Até 2015!