Domingo deixou de ser aquele dia para curtir a fossa antes da segunda-feira, em casa, para o rocker de São Paulo. Ao contrário, este dia se tornou uma boa alternativa para começar bem a semana com um ótimo show. E foi isso o que aconteceu no dia 3 de julho, no Hangar 110. Após mais de 5 anos longe dos palcos brasileiros, a banda The Gathering voltou, em uma das etapas da South American Ghost Ride Tour. Aliás, esta turnê foi bem peculiar, pois passou por países não muito comuns para as bandas, como Peru, Bolívia, Equador e Colômbia.

No Brasil, dos três shows agendados em Porto Alegre, Curitiba e São Paulo, apenas o paulista aconteceu, para um público pequeno, mas muito apaixonado e dedicado à banda. Aliás, a escolha do local e o número de presentes deixaram a noite com um clima mais intimista. Os irmãos Rutten e companhia subiram ao palco do Hangar meia hora mais tarde do horário divulgado, mas nem o frio, nem o atraso fizeram a empolgação dos fãs irem embora.

Apagaram-se as luzes da casa e os primeiros acordes de “Herbal Movement” surgiram, indicando apenas o início da pedrada que viria. A bela Siljie Wergeland, que assumiu o posto de vocalista da banda, em 2009, parecia muito à vontade, dançando, pulando e gesticulando pelo palco. Entre uma tentativa e outra de falar português com um simples “obrigada”, a banda seguia sua programação, sem muitas palavras. O show continuou com “Saturnine”, para mais reações fervorosas dos fãs, “Shot to Pieces”, “Rusty Hands” e “Leaves”, músicas praticamente obrigatórias no setlist.

O que o público via ali era uma banda com uma técnica impecável na execução de suas músicas. Chegava a hora de “A Constant Run”, música do último trabalho de estúdio, “The West Pole”, de 2009, o primeiro com Siljie na banda, que participou ativamente do processo de composição do álbum. Dando sequência, “Great Ocean Road”, “Broken Glass” e Siljie anuncia a incrível “Heroes for Ghosts”, mais uma música nova, lançada em maio deste ano, pelo site do The Gathering. Vale destacar os backing vocals da baixista Marjolein Kooijman, que nas gravações e nos shows traz uma bela harmonia para as canções. Sem esquecer também do público, que funcionou como o “sexto integrante”, cantando o tempo todo. Os veteranos René Rutten (guitarrista), Frank Boiejen (tecladista) e Hans Rutten (baterista), permaneceram concentrados em seus instrumentos, realizando seus papéis de forma impecável.

O show seguiu com “In Motion #1” e, no intervalo, Siljie perguntou se os presentes sabiam que a seleção brasileira feminina de futebol havia batido a Noruega, por 3 a 0, pelo Mundial. Aproveitando a deixa, o público cantou parabéns para René, que completou 39 anos na véspera do show. Chegava a vez de “Eléanor” desestruturar o público, se é que naquela altura do campeonato alguém ainda estava alheio ao clima. “No One Spoke” e “All You Are”, outras duas músicas do último álbum, fecharam o show. Com um cumprimento rápido para os fãs, a banda deixou o palco. Apenas Marjolein, muito bem humorada e com sua camiseta do Justin Bieber (pasmem!), ficou e disse que a banda discutiria nos bastidores se voltaria ou não, e que apenas tocaria mais se o público fizesse “aquela mágica brasileira” – seja lá o que isso significa.

Rapidamente a banda retornou para o bis. De acordo com o setlist no palco, seria tocada “The Shortest Day”, mas a banda optou por “On Most Surfaces (Inuït)” e, com essa mudança, o álbum “Home” não teve nenhuma música no repertório. “Travel” foi a escolhida para encerrar o show. Mesmo com os gritos dos fãs pedindo mais uma ou duas músicas, a banda encerrou a noite e Siljie pediu para que todos aplaudissem também o tour manager, que se despedia naquela noite. Ao acender as luzes da casa, boa parte dos presentes foi embora, enquanto alguns preferiram ficar e viram o próprio René Rutten desligando e guardando seus equipamentos. Aos que chegaram à beira do palco, o guitarrista conversou, distribuiu autógrafos e fotos.

E assim, chegava mesmo ao fim um domingo frio, embalado pelo The Gathering. Certamente este show ficará na lembrança dos fãs, que foram embora com a sensação de alma lavada. A semelhança com as gravações de estúdio deixaram evidente que a banda é muito competente naquilo que se propõe. Não é possível esquecer o passado, mas o recado de que a equipe está mais entrosada do que nunca foi transmitido aos “viúvos de Anneke”.

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Escrito por

Renata Santos

Sou formada em jornalismo e colaboro com sites de música há quase dez anos. Integro a equipe do Portal do Inferno desde 2011.