A década de 90 é marcante para o heavy metal, pois, foi nesse período que o Power Metal se estabilizou como um gênero importante e com vários fãs pelo mundo. Diversas bandas surgiram e fizeram história, influenciando as novas gerações.

Da esq à dir: Enrique, Yohann, Lorena e Pepe. Imagem:Irina Gradenko
Da esq à dir: Enrique, Yohann, Lorena e Pepe. Imagem:Irina Gradenko

O Brasil deixou a sua marca com o Angra, onde lançou duas obras-primas cultuadas nos 4 cantos do Planeta: Angels Cry (1993) e Holy Land (1996).

Um bom legado que vemos nesta década é o Tritton. O grupo mexicano surgiu em 2009 através dos amigos Enrique Torres e José ‘Pepe’ Gómez. Os dois guitarristas já haviam tocado em outro grupo chamado Dracko.  Em seguida, Yohann Torres, irmão de Enrique, entrou para tocar bateria e Victor Veras para ser o baixista. Com Pepe nos vocais, o quarteto seguiu assim até 2013, quando Lorena Cabrera assumiu como cantora. Em outubro de 2013, saiu o primeiro álbum: Fear of Madness. Em 2015, Victor deixa o grupo e Lorena assumiu a função das 4 cordas. Em 2018, o agora quarteto da capital mexicana, lançou o segundo ‘full-lenght’: ‘Rising Mess’.

Como reconhecimento do bom trabalho, o Tritton foi convidado em 2019 a participar de um tributo em homenagem ao lendário Gamma Ray. O evento contou com grupos da Europa e do continente americano.  A música que os mexicanos gravaram foi ‘Land of Free’.

Nesta entrevista, o guitarrista Enrique Torres falou sobre a trajetória da banda, a cena headbanger no México, as influências do metal brasileiro e os projetos para o futuro.

Confira:

1)De onde surgiu o nome Tritton e quando viram que seria bom para a banda ter uma vocalista?

Enrique Torres: O lugar em que ensaiávamos no início ficava em uma rua chamada Triton. Triton na mitologia grega é o Deus do Mar, filho de Poseidon, cuja história conta que ele fazia barulho com um caracol marinho para atemorizar os gigantes e afugentá-los.  Os gigantes acreditavam que o som vinha de uma besta maligna e poderosa. Esse significado nos agradou como nome de uma banda de heavy metal. Depois decidimos incluir mais um ‘T’ no nome, pois, acreditamos que daria uma estética diferente e uma força maior na identidade e no logotipo da banda. Vimos que muitas bandas que admiramos como Def Leppard, Led Zeppelin, Metallica, Kiss e Hammerfall, tinham uma letra dupla. Então vimos isso como uma inspiração para nos darmos bem na nossa carreira, assim como eles.

2)Tritton tem dois álbuns de estúdio: ‘Face of Madness `(2013) e ‘Rising Mess `(2019). O que cada um deles representa para a banda?

O Face of Madness é especial por ser o primeiro, possui temas que havíamos composto no passado e que até então não tínhamos tido a oportunidade de gravar. O som é um pouco mais linear, menos variado e mais fácil de classificar como ‘speed metal’. Não nos sentimos tão próximos ao power metal, embora algumas vezes nos classifiquem assim. Para nós significou muito ímpeto, muita vontade de fazer as coisas, tocar rápido e ter essa necessidade de por pra fora essa velocidade.

Já o Rissing Mess, houve uma mudança na sonoridade: é mais livre, variado e menos comprometido com subgêneros. Agora, nós dizemos simplesmente que tocamos rock e deixamos que cada qual classifique nosso estilo como bem entender. Há músicas que soam mais ‘thrash’, outras que soam mais ‘heavy’, outras um pouco ‘punk’, algumas hard rock e até há uma balada. Nos agrada muito a liberdade criativa e esse álbum de alguma maneira representa esse pensamento.

3) Há músicas do Tritton que são em inglês e outras em espanhol. Como fazem para escolher qual o melhor idioma para cada canção?

Levamos em conta vários quesitos: a métrica e estrutura da música, a duração de cada linha de versos e a melodia vocal. O idioma inglês permite usar frases com menos sílabas, pois, as palavras nessa língua são mais curtas. Funciona melhor para as músicas mais rápidas. Já a língua espanhola,  a usamos menos nas músicas, mas funciona bem para temas mais lentos, onde os riffs são mais ‘espaçados’ e deixam lacunas para frases com mais sílabas.

No primeiro disco, a maioria das letras inicialmente estava em espanhol e depois convertemos para o inglês. O resultado desta troca nos agradou muito.

Já no Rissing of Mess, a maioria das letras fizemos em inglês desde o princípio, embora, nossa canção mais conhecida estivesse escrita desde o início em espanhol, pois, é mais lenta e há espaço para que as frases maiores estejam em evidência.

Para o próximo disco é possível que tenhamos mais músicas em espanhol.

4)Como avaliam hoje a cena heavy metal mexicana?

Sempre houve espaço para shows, embora não sejam muitos em comparação com outros tipos de música. Há foros que se mantêm por décadas, enquanto outros têm poucos anos de duração e logo fecham as portas. Há muito espaço para o metal, embora a maioria prefira os grupos estrangeiros famosos. Entretanto, nos últimos anos, há um crescimento do apoio em relação as bandas locais. Cada vez mais há bandas e público e isso é muito positivo.

5) Em 2015, o Tritton fez shows no Panamá.Como foi essa excursão?

Foi bastante produtiva. Nossa música foi bem recebida e levamos mercadorias nossas, onde vendemos bastante camisetas e CD’s. Agora, temos vários amigos panamenhos e esperamos voltar lá um dia. O público headbanger panamenho é magnífico e muito entusiasmado. Também há bandas e músicos muito bons.

6)Como foi que começou a ouvir heavy metal e a tocar guitarra?

Eu escuto heavy metal desde o final dos anos 80. Tive contato através de amigos mais velhos e tios que eram fãs de rock. Com os outros membros da banda foi bem parecido o contato com o heavy metal. Sobre os nosso grupos favoritos, digo que são Deff Leppard, Led Zeppelin, Queen, Van Halen, Scorpions, Pantera, Helloween, Metallica, AC/DC e bandas mexicanas da década de 80 como Luzbel e Raxas. Da América do Sul, nos agrada muito Rata Blanca,Angra e Malón.

Sobre iniciar a carreira de músico, todos, praticamente começamos na década de 90.

7) Em 2020, o mundo ainda atravessa a pandemia do Coronavírus. Como está a situação geral no México e como está no quesito shows?

A situação do México, é complicada e similar a de muitos países latino-americanos, porque há cidades muito grandes e muita gente tem um estilo de vida que a impede de ficar muito tempo em casa e necessita trabalhar fora. Por agora, não se pode e nem se deve fazer shows com público, de acordo com as precauções que as autoridades ordenaram. É permitida somente pequenas apresentações em restaurantes/bares com um número restrito de pessoas e limite mínimo de volume e sem muitos decibéis. Porém, isso favorece muito as bandas que fazem covers, já que em ocasiões assim, quase não chamam bandas que tem músicas próprias.

8) Por fim, há alguma banda brasileira que te agrada? Há planos de um dia tocarem no Brasil?

Talvez não conhecemos tantas assim, mas nos agradam principalmente Angra, Shaman e Sepultura. Também há outras como Krisiun, Nervosa e Almah. Somos muito fãs de Angra e vimos alguns shows deles. Eu gosto mais da época do André Matos, enquanto o Yohan, por exemplo, é mais fã da época do Edu Falaschi. Os dois primeiros do Shaman, Ritual e Reason são magníficos. Também me agrada muito a época do Sepultura com Arise e Chaos A.D.

Com respeito a tocar no Brasil, isso está em nossos planos. Sabemos que há um grande público em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e demais cidades. Por hora, por conta da pandemia, tivemos que cancelar duas viagens nossa na América Latina. Assim que a situação tiver melhor e estejamos livres desse vírus, voltaremos a planejar essas visitas e esperamos poder incluir o Brasil nesse plano.

Escrito por

Leonardo Cantarelli

Headbanger, jornalista formado, autor de 2 livros e mesatenista!