Bristol, a sexta cidade mais populosa da Inglaterra e a oitava do Reino Unido, foi orgulhosamente escolhida para receber um novo festival de música. Em sua primeira edição, o Temples Festival sacudiu a comunidade metal desde os seus primeiros anúncios, antecipando uma inesquecível sucessão de grandes performances ao vivo.

O festival aconteceu na famosa casa de shows The Motion, convenientemente localizada a uma curta distância, de caminhada, da Bristol’s Temple Meads Station e conhecida pelos moradores locais como “o paraíso selvagem para a fúria”. Mas, como esperado, as coisas durante o Temples Festival aconteceram bem diferente do tradicional, uma raiva sem variações.

Do lado de fora, o Motion parece um armazém, abandonado após uma tentativa de escapar do apocalipse: uma vez lá dentro, as estruturas metálicas, os tetos altos e as paredes gastas criam um ambiente alucinante, em perfeita sincronia com a música extrema do festival. Dois palcos – um principal e um menor adjacente – e muita música ao vivo para os fãs mais fieis e exigentes: com headliners como o Electric Wizard, o Neurosis e o Clutch, não foi surpresa alguma que os ingressos para esse evento maravilhoso venderam tão rapidamente. Com a adição de grandes nomes ingleses como Anaal Nathrak, Conan e, é claro, O mais aguardado, Dragged Into Sunlight (que levou à loucura o público do The Desert Fest, em Londres, apenas uma semana antes da maravilhosa apresentação no Temples Festival), esse evento de três dias provou ser único. Não somente os três dias tiveram um line-up matador, como o festival teve uma atmosfera amigável, em nome da boa música, dos bons tempos e muita cerveja.

Clique aqui e confira mais fotos desse festival!

1º dia – 2 de maio, sexta-feira
Desde as primeiras horas do dia, era fácil identificar o público do festival chegando de todo o Reino Unido e além, tomando a estação Temple Meads e se preparando, carregados pela empolgação e pela expectativa de três dias inesquecíveis que estavam por vir. O dia chuvoso foi iluminado pelos primeiros raios de sol de primavera: o clima estava completo.

O primeiro dia começou com uma performance bem comum do Code, que depois da sequência de Spider Kitten e Witchsorrow foi totalmente revertida pelo esquadrão da Virgínia do Satan’s Satyrs. Seu rock inspirado nos anos 70 tem aquela pegada distinta que faz as pessoas pularem, muito. Eles são jovens e corajosos, consequentemente provaram ser um dos melhores shows do dia.

Satan’s Satyr (foto: Fabiola Santini)

A combinação letal dos ingleses do Wodensthone e do Winterfylleth foi o destaque do dia, com as duas bandas distinguindo em suas notáveis presenças de palco e distorções mais altas que o inferno. Nesse ponto do dia, um bom e velho doom era mais do que bem-vindo: ficou a cargo do Moss de abraçar a plateia com suas notas intoxicantes, criando um ambiente tanto impregnado quanto poderosamente animado.

O show seguiu com o Jucifer e seu set cativante que precedeu o Desecration. Vindo de South Wales, o som do Desecration é sólido, potente e viaja rápido. Com o público com as energias recarregadas, o Blood Ceremony não deixou uma impressão forte, já que soaram pouco animados.

Blood Ceremony (Foto: Fabiola Santini)

E chegava a vez da fúria de titãs: enquanto o Anaal Nathrakh tomou o segundo palco com o seu metal extremo já conhecido, o Brutal Truth foi o grande protagonista do palco principal. Infelizmente, essa foi a última apresentação deles no Reino Unido: após quase três décadas espalhando o mais puro grindcore, Dan Lilker e companhia vão dizer adeus. Rendições absolutamente alucinantes para Malice e End Time – com Kevin Sharp de pés descalços costumeiramente correndo por ali, possuído pelo seu fogo nato -, fizeram desse set algo a ser lembrado.

O prêmio de verdadeiro headliner do dia, no entanto, deveria ir para os noruegueses veteranos do Gehenna. Após a sua recente apresentação deslumbrante no Inferno Metal Festival, em Oslo, o esquadrão liderado pelo poderoso Sanrabb dominou o segundo palco com a evocativa The Decision, faixa que abre o mais recente álbum, Unravel. Isso é, definitivamente, black metal, nada parece ter sido deixado aleatoriamente em absoluta perfeição no som e nos vocais de Sanrabb.

Moss (Foto: Fabiola Santini)

Chegou a vez do Electric Wizard’s de fechar as cortinas do paco principal: a expectativa pelo seu set foi levemente ofuscada pela presença de palco, já que eles não se envolveram tanto com o público como esperado. No entanto, encerrar o repertório com Funeralopolis deixou todo mundo com bom humor e com muita energia para se aventurar na cidade para mais diversão nos pubs e bares locais. Esse foi apenas o começo.

2º dia – 3 de maio, sábado
Os americanos do Tombs estão de volta com força total com seu novo álbum Savage Gold, e era uma das mais aguardadas bandas do segundo dia. Mas ainda havia uma longa espera, marcada para mais tarde. O Svalbard deixou a plateia um pouco desapontada já que pareceu que faltou definição. As coisas pegaram fogo no segundo palco com os finlandeses do Unkind e a mistura implacável de riffs infernais e baterias detonadoras.

O palco principal recebeu uma performance em estado da arte dos maquiavelianos do Bossk. Seu caos extremamente sofisticado é simplesmente deslumbrante em sua complexidade de um trabalho notável e estranho de guitarras. O ambiente que eles criaram foi o prelúdio para o que viria a seguir. O Conan, como esperado, é mais alto que o inferno. Seu doom é um dos melhores atualmente e, naquela noite, eles provaram mais uma vez ser um dos melhores e mais modernos representantes do gênero.

Bossk (Foto: Fabiola Santini)

Com o A Storm of Light, a plateia foi dominada por uma combinação de tirar o fôlego de luzes e vídeos maravilhosos, mostrado em uma grande tela durante a sua impressionante apresentação. E, finalmente, chegou a hora do Tombs. No momento em que o frontman Mike Hill entrou no palco com sua forte e cativante presença, o seu desenrolou em uma sequência de faixas esplendidamente trabalhadas, englobando black metal, doom e sludge no que só pode ser definido como um som autêntico. Definitivamente uma banda para nunca ser negligenciada, o Tombs deixou mais uma vez a sua marca. É difícil se equiparar a tamanha excelência: no entanto, os belgas do Amenra fizeram um trabalho excelente em manter a temperatura alta, já que seu hardcore experimental causou um grande impacto graças ao maravilhoso visual de cascatas pretas e brancas.

Neurosis (Foto: Fabiola Santini)

O Neurosis não poderia ter feito um trabalho melhor em fechar o segundo dia do palco principal, como o headliner solene. Canções notáveis de At the Well e The Tide definiram o repertorio que é simplesmente e brutalmente divino. E quando as notas da faixa de encerramento, Stones From the Sky, soaram na noite, o último passeio do Temples Fest estava se aproximando com outro dia memorável por vir.

3º dia – 4 de maio, domingo
O dia de encerramento do Temples Festival chegou muito cedo: no entanto, a empolgação no ar mostrava que grandes coisas iriam acontecer. Os finlandeses do Beastmilk e seu pós-apocalíptico punk misturado com rock é totalmente envolvente. Seguindo as bem-sucedidas apresentações na edição do último ano do Live Evil e, mais recentemente, em seu único show no The Lexington, em Londres, nessa noite, os finlandeses mostraram à sua crescente plateia que eles estavam com tudo. Seu sucesso Death Reflect Us carrega a plateia em um incontrolável frenezi que é prazerosamente contagioso.

Beastmilk (Foto: Fabiola Santini)

Com o Herder e o Hark desanimando bastante o clima, a chegada do Dragged Into Sunlight furiosamente veio como um sopro de ar fresco intoxicante. Quando o esquadrão tomou conta do palco, virados para a parede, uma grossa camada de fumaça fez uma barreira que tornou impossível vê-los claramente. Com a já conhecida sequência matadora de Boiled Angel / Buried With Leeches tudo pareceu muito intenso e sedutor, e seu repertório se tornou uma grande experiência ao vivo com os mais altos volumes, onde o metal extremo encontrou a pura escuridão. Não há muito o que comparar, o Dragged Into Sunlight é supremacia pura.

Clutch (Foto: Fabiola Santini)

Chegou a hora dos italianos de Trieste do The Secret de manter a adrenalina correndo e eles fizeram um bom trabalho graças às façanhas fora do palco do frontman Marco Coslovich. No palco principal, o SSS foi percebido apenas como aceitável depois do Dragged Into Sunlight e a explosão do The Secret e os lendários destruidores do Repulsion fizeram um trabalho maravilhoso como headliners do palco menor. O Clutch terminou o grande dia em seu estilo tradicional.