Por: Fabiola Santini | Tradução: Renata Santos

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Versão em português

“From atop the oldest bastions of madness and of mutiny
Do alto dos mais antigos baluartes da loucura e do motim
May their grave blaze ever light our path
Que as chamas de seus túmulos sempre iluminem nosso caminho
For have they not made us see the burning heavens?
Pois eles nos fizeram ver os céus em chamas?
The beacons of rebellion
Os faróis da rebelião
And the return of angry, angry, angry Gods?”
E o retorno dos furiosos, furiosos, furiosos Deuses?
(Watain – De Profundis)

Erik Danielsson - Watain
Foto: Fabiola Santini

Portal do Inferno: Watain é uma banda com um passado glorioso e um futuro certamente glorioso. Antes de começarmos a falar sobre o novo álbum, The Wild Hunt, vamos abordar o antecessor, Lawless Darkness. Você mencionou que foi uma montanha-russa louca pelo inferno. Como foi para você logo após o lançamento, em 2010, com a massiva turnê que se seguiu?
Erik Danielsson: Sabe, não foi uma montanha-russa no sentido da agenda da turnê. É claro que foi muito foda. Foi totalmente insano, todas as noites nós subíamos no palco e fazíamos coisas estranhas; a mente se transforma e tudo se torna muito grande. Mas acho que me referi ao passeio de montanha-russa de brincadeira pelo fato de que Lawless Darkness foi construído com energias muito fortes. Para nós foi como abrir portas que, no final, os elementos resultariam em algo totalmente fora do nosso controle. O ponto era: essas energias se tornaram parte das nossas vidas e nós ficamos familiarizados com coisas novas e estranhas. Esse é um conceito abstrato que mostrou diferentes níveis das nossas vidas, foi uma época muito pesada e ao mesmo tempo muito vitoriosa. No final, após três anos em turnê, éramos pessoas muito diferentes.

P.I.: No ano passado, quando o entrevistei logo após a sua turnê com o Behemoth, The Devil’s Blood e In Solitude, você estava no Oregon. Foi lá que o conceito de The Wild Hunt começou a se desenvolver? Se sim, o que te levou àquela remota parte dos Estados Unidos?
Erik: Acredito que sim. Mas não tem muito a ver com o lugar; tem a ver com o estado mental em que estávamos naquele momento. Particularmente, a turnê que fizemos com o Behemoth foi a coroação de todo aquele período de Lawless Darkness. Foi, de fato, a turnê perfeita, muito inspiradora, a combinação perfeita. Você precisa de algo como aquilo para parar e dizer: “ok, agora é hora de recomeçar, é hora de trabalhar em algo novo”. Foi a fase perfeita para começar a compor um novo material. Eu estava cheio de inspiração, embora também estivesse exausto. Fazer turnê por todo aquele tempo, beber, as festas, mas não é o que eu quero dizer; é o que acontece no palco o tempo todo. Isso muda você completamente.

P.I.: Com Sworn to the Dark e, na sequência, com Lawless Darkness, parece que o Watain quebrou barreiras entre o underground e o mainstream. Você acha que The Wild Hunt vai levar essa “cruzada”, digamos, mais além?
Erik: Bem, para ser honesto, não era nossa intenção , não é algo em que focamos ou pensamos sobre. Isso aconteceu por causa dos fãs, da mídia e do modo como outras pessoas começaram a perceber a banda. O Watain foi formado em uma cena muito underground; nós até construímos a nossa primeira sala de ensaio. Acho que ainda temos aquele tipo de clima: o Watain estava se tornando cada vez maior e bem-sucedido, e nós ainda estávamos no nosso mundo, e ainda estamos. Depende das pessoas permitirem que nós ultrapassemos para outro nível; fazemos isso por outras razões, para nós, é algo sagrado e mágico, o único motivos de estarmos aqui na Terra.

P.I.: The Wild Hunt foi lançado em 19 de agosto: vamos começar falando pela capa, feita em tinta óleo e outros materiais. A arte foi feita por Zbigniew M. Bielak, o mesmo artista responsável pela capa de Lawless Darkness. A imagem faz referência a um templo do Watain, onde cada objeto tem um significado, assim como cada música do álbum também está conectada a um objeto.
Erik: The Wild Hunt foi uma forma de olharmos para o passado. Não de uma forma biográfica, mas em um conceito espiritual e divino. Nós queríamos que a capa representasse a coleção de experiências diferentes e ideias que tivemos durante essa jornada, assim como eventos muito importantes que aconteceram e percepções que tivemos. Cada música representa uma dessas experiências e percepções. A capa era para representar os espólios de The Wild Hunt, os tesouros que conquistamos nessa jornada. Eu realmente gosto dela; acho quando as pessoas ouvirem ao álbum e começarem a pensar um pouco melhor sobre as letras, vai fazer mais sentido.

Erik Danielsson - Watain
Foto: Fabiola Santini

P.I.: Estranho começar com a instrumental Night Vision, com uma introdução de guitarra incrível que dá a sensação de suspense sobre o que está por vir, quase como uma porta abrindo para o desconhecido. O seu familiar vocal scream transforma De Profundis em uma faixa perfeita, na minha opinião. O que você gostaria de compartilhar sobre essa música?
Erik: O título significa “Das Profundezas”. Para mim, essa música tem vários significados, mas a forma que eu gostaria de falar sobre ela é baseada no conceito do underground. Ser underground não significa vender 50 ou 5 mil cópias de seu disco, é um estado da mente que tem uma ligação direta com um lugar muito profundo, muito obscuro e muito perturbador onde eu acho que o black metal nasceu, um lugar com uma importância grande e mágica. O que eu quis com a letra de De Profundis foi tentar capturar a intensidade desse lugar. Não dá para falar sobre isso apenas, você tem que experimentar e sentir o que é o underground, você precisa viver e ter isso fervendo em seu sangue. Isso é, de certa forma, do que a música se trata, o respeito e a reverência que eu sinto por esse conceito.

P.I.: Black Flames March é a minha nova música favorita do Watain, imagino como ela ficaria ao vivo.
Erik: Essa é, de fato, uma das músicas que estamos planejando tocar na nossa próxima turnê. É uma canção muito especial para nós e pareceu bem natural ser a primeira música escolhida do novo álbum. É quase como uma trilha sonora, tem uma natureza muito dramática e teatral a qual eu gosto muito. O tipo de tema que a letra tem demanda uma música muito poderosa.

P.I.: Por que a escolha de All That May Bleed para dar uma amostra The Wild Hunt? Deve ter sido muito difícil escolher uma música.
Erik: E foi. Queríamos uma música que soasse como um aviso de que algo realmente terrível estava para acontecer. All That May Bleed se tornou esse aviso e, ao mesmo tempo, um convite. A música tem aquele sentimento militante, um pouco opressivo e quase industrial, de certa forma. Eu gosto disso, uma música que pode pegar as pessoas como uma mão de ferro.

P.I.: All That May Bleed realmente faz a gente querer ouvir todo o álbum para descobrir o que é esse aviso, tem uma atração muito forte nela.
Erik: Legal, fico feliz em saber disso.

P.I.: Já existem muitas interpretações para The Child Must Die, é um título forte para uma canção forte.
Erik: Eu gosto do fato das pessoas terem várias interpretações, é por isso que eu não quero explicar qual a minha relação pessoal com a letra. Mas posso te dizer que a música tem a ver com sacrifício, o sofrimento que alguns sacrifícios causam por terem que passar por um processo muito doloroso, a fim de seguir adiante e transcender. Tenho certeza que muitos sabem como é ser arrastado além do limite; e, então, você olha para trás e fica orgulhoso por ter ultrapassado o limite, mas ao mesmo tempo, há um sentimento de perda e sofrimento. Para mim, a criança simboliza algo que muitas pessoas, se elas são honestas consigo mesmas, teriam muita dificuldade em matar. Há muito sofrimento nessa música e muito questionamento: você é capaz de fazer isso? Ao mesmo tempo, The Child Must Die é uma música sobre a vitória e a libertação que vêm com esses tipos de sacrifícios.

Watain

P.I.: Há muita coisa aparecendo durante todo o álbum. Ao final da primeira audição, The Wild Hunt se torna um trabalho impressionante que cobre quase todos os estilos de metal extremo, sem truques. Ao passo que Outlaw e Holocaust Dawn são, na minha opinião, embebidos na tradicional estranheza do Watain, a faixa-título se afasta da tradição e indica que você explorou diferentes níveis, você concorda?
Erik: Concordo que a faixa-título é diferente do que fizemos antes, mas devo dizer que, por outro lado, não pareceu tão experimental para nós. A música representa parte do Watain que sempre foi muito centrada. Muitas pessoas podem pensar que estamos indo para um estilo completamente diferente com essa música, mas o importante para nós é não fazer isso. Não estamos interessados em tentar algo novo, tem mais a ver com ser mais honesto e aberto. Os vocais limpos são para expressar certos sentimentos que eu não poderia com os gritos.

P.I.: O álbum marca o começo da relação de vocês com a Century Media, como isso aconteceu?
Erik: Estávamos numa posição em que éramos livres para assinar com a gravadora que quiséssemos, no final, a decisão veio de uma forma muito fácil por razões diferentes as quais eu não vou entrar em detalhes. Não houve dúvidas, eles eram as pessoas certas, eles têm a atitude rock ‘n’ roll e também têm muito respeito pelo que estamos fazendo. Eles também estão muito abertos a trabalhar conosco da forma que fazíamos na nossa própria gravadora. Estou muito feliz.

P.I.: O Watain é, de fato, a sua própria entidade através da His Master’s Noise (gravadora própria da banda), essa é uma forma de manter a sua independência criativa?
Erik: O Watain sempre esteve centrado em liberdade e independência, sendo um espírito livre. Para atingir isso em cada nível, você tem que fazer isso com a sua mente e sua gravadora, você precisa ser livre. A His Master’s Noise é apenas um passo nessa direção.

P.I.: Talvez você esteja considerando promover outras bandas baseadas nesse conceito?
Erik: Uma coisa de cada vez.

P.I.: Vocês começaram a turnê de The Wild Hunt em agosto, em Uppsala, sua cidade natal, e ficou claro como muitas pessoas ainda temem e se sentem atraídas ao mesmo tempo com a vontade de ir aos shows do Watain. Como vocês estão se preparando para esse próximo passo? Vocês querem criar ainda mais esse medo atraente?
Erik: Vamos ficar em turnê por mais tempo do que antes. O aspecto ao vivo é muito importante para nós e precisamos disso para sobreviver espiritualmente. Cada show é mais um pedaço de lenha para o fogo do Watain.

English version

“From atop the oldest bastions of madness and of mutiny
May their grave blaze ever light our path
For have they not made us see the burning heavens?
The beacons of rebellion
And the return of angry, angry, angry Gods?”
(Watain – De Profundis)

Erik Danielsson - Watain
Photo: Fabiola Santini

Portal do Inferno: Watain is a band with a glorious past and a certain glorious future. Before we start talking about your new album, The Wild Hunt, let’s go back to its predecessor Lawless Darkness. You mentioned that it has been one crazy roller-coaster through hell. What was it like for you right after its release in 2010 with the massive touring that followed?
Erik Danielsson: You know, it wasn’t a rollercoaster in the sense of the touring schedule. Of course that was very fucked up in itself. It was totally crazy, every night we would go on stage doing strange things; the mind transforms itself and it all become very overwhelming. But I think that a part from that, the rollercoaster ride I kind of humorously referred to was the fact that Lawless Darkness was built so much on strong energies. For us it was about opening doors that in the end the elements that resulted were totally out of our control. That was the whole point: these energies became part of our lives and we became untangled in strange, newer things. This is an abstract concept that showed up in many different levels of our lives, it was a very heavy and at the same time a very triumphant and victorious time. At the end of it, after three years of touring we were very different persons.

P.I.: Last year when I interviewed you right after your tour with Behemoth, The Devil’s Blood and In Solitude you were in the Oregon. Was that were The Wild Hunt concept started to unfold and if so, what brought you to that seemingly remote part of the US?
Erik: I suppose so. But it did not have much to do with the place; it was about the mental state we were in at that time. For me personally, that last tour we did with Behemoth was the crown of the whole Lawless Darkness period. It was the perfect tour really, very inspiring, the perfect combination. You need something like this to stop and say: ok, now it’s time to start again, it’s time to work on something new. It was the perfect phase to start writing new material. I was full of inspiration even if I was exhausted at the same time, in every way. Touring for that long, drinking, partying but it’s not what I mean; it’s what happens on stage every time. It changes you completely.

P.I.: With Sworn To The Dark and subsequently with Lawless Darkness, Watain seems to have broken the barriers between underground and mainstream. Do you think that The Wild Hunt will enhance this let’s call it “crusade” even further?
Erik: Well to be honest it wasn’t really our intention to do this, it’s not something what we focus on or think about. This happened because of the fans, the media and the way other people started perceiving the band. Watain was formed in a very underground scenario; we even built our first rehearsal room. I think we are still stuck in that kind of vibe: the bigger and the more successful Watain was becoming, we were still pretty much in our own world and we still are. It’s up to other people to allow us to break through another level; we are doing this for other reasons, for us this is something holy and magic, the only reason we are here on earth.

P.I.: The Wild Hunt was released on August 19th: let’s start by talking about the cover, executed in oil and mixed materials. This still life was painted by Zbigniew M. Bielak, the very same artist who was responsible for the artwork of Lawless Darkness. The image peers into the inmost shrine of Watain’s temple where each object has a significant meaning, just like each song of the album is also connected to an object.
Erik: The Wild Hunt is very much a way for us to look back to the past. Nothing in a biographical sense but rather in a spiritual and divine concept. We wanted the cover to represent a collection of different experiences and ideas that we have acquired during this journey, like very important events that happens and insights that we have come to know. Each song represents one of those experiences and insights. The cover was meant to represent the spoils of The Wild Hunt, the treasures that we have taken with us on this journey. I really like it; I think that by the time people listen to the album and start thinking a bit deeper about the lyrics it will make more sense.

Erik Danielsson - Watain
Photo: Fabiola Santini

P.I.: Eerie start with all instrumental Night Vision, with an awesome guitar intro that gives a sense of suspense on what is about to come, almost like a door opening into the unknown. Your familiar scream leads to De Profundis, a perfectly crafted track in my opinion. What would you like to share about this song?
Erik: The title means from the depths. For me this song is about many things, but the way I would like to talk about it is based on the concept of the underground. Being underground has never been about selling fifty or five thousand copies of your record, it’s a state of mind that has a direct link to something very deep, a very dark and disturbing place where I think is where black metal was born, a place of magic and great importance. My attempt with the lyrics for De Profundis was to try and capture the intensity of that place. You cannot just talk about this, you have to experience it and feel what the underground is, you have to live it and have it boiling in your blood. That is in a way what the song is about, the respect and the reverence that I feel for this concept.

P.I.: Black Flames March is my new favourite Watain song, I imagine how it would be performed live.
Erik: That is actually one of the song that we are planning to play on our next tour. It’s a very special song for us and it felt very natural to pick it as the first live song from the new album. It’s almost like a soundtrack, it has a very dramatic and theatrical nature, which I like a lot. The kind of subject that the lyrics deal with demands a very powerful back-up with the music.

P.I.: Why the choice of All That May Bleed to give an anticipation of The Wild Hunt on summer solstice? It must have been very difficult to pick that one song.
Erik: It was. We wanted a song that sounded like a warning that something really terrible was going to happen, soon. All That May Bleed became that warning and at the same time it became an invitation. The song has that militant feeling in it, quite oppressing and almost industrial somehow. I like that, a song that can grab people like an iron hand.

P.I.: All That May Bleed definitely makes you want to listen to the whole album to find out what this warning is about, it has a very strong attraction in it.
Erik: Good, I am glad to hear that.

P.I.: There have been already so many interpretation of The Child Must Die, such a strong title for a strong song.
Erik: I like the fact that people have lots of interpretations, that’s why I don’t really want to explain what my personal relation to the lyrics is. But I can tell you that the song is about sacrifice, the suffering that some sacrifices demand because of having to go through a very painful process, in order to move forward and transcend. I am sure that many people know how it feels to be dragged over the threshold; and then when you look back you are proud that you did go over the threshold but at the same time there is a feeling of suffering and loss. To me, the child symbolizes something that most people, if they are honest to themselves, would have a very hard time to kill. There is a lot of suffering in this song and a lot of questioning: are you able to do that? At the same time The Child Must Die is a song about victory and liberation that comes with these kind of sacrifices.

Watain

P.I.: Throughout the whole album, there is so much emerging. At the end of the first listen The Wild Hunt becomes an impressive work covering almost all styles of evil metal, no tricks spared. Whereas Outlaw and Holocaust Dawn are, in my opinion soaked with Watain’s traditional eeriness, the title track detaches from tradition and indicates that you have explored at even deeper levels, would you agree?
Erik: I agree that the title track is different from what we have done before, but I must say that on the other hand, to us it did not feel so experimental. The song represents a part of Watain that has always been much centred to us. A lot of people may think that we are going into completely new style with this song, but the important thing for us was not to do this. We are not interested in trying to do something new, it was more about being even more honest and open. The clean vocals are about expressing certain feelings that I cannot express with screams.

P.I.: The Wild Hunt marks your arrival at Century Media, how did it all happen?
Erik: This time we were in a position that we were free to sign with any label we wanted, in the end the decision came very easily to us for many different reasons which I am not going to go into details about. There was no question, they are the right people, they have the rock’n roll attitude and they are also very respectful to what we are doing. They are also very open to work with us in a way that we have our own label. I am very happy.

P.I.: Watain is as a matter of fact, its own entity through His Master’s Noise, is this a way to retain your creative independence?
Erik: Watain has always been centred on freedom and independence, being a liberated spirit. In order to achieve this at every level, you have to do it with your mind and with your label, you have to be free. His Master’s Noise is just one step towards this direction.

P.I.: Perhaps are you considering promoting other bands based on this concept?
Erik: One thing at the time.

P.I.: As you are now getting ready for The Wild Hunt tour which will commence with a show in Uppsala, your hometown, on August 24th it’s clear that so many people still fear and feel attracted at the same time to attend Watain shows. How are you preparing for this next step? Are you aiming at creating even more attractive fear?
Erik: We are going to tour more than ever before. The live aspect is very important for us; we need it to survive spiritually. Every concert is one more piece of wood for the fire of Watain.