A arte sempre foi um caminho para as pessoas se expressarem. Uma forma diferente de se manifestarem e ‘gritarem’ contra injustiças sociais.

Dos segmentos artísticos, a música, é aquele capaz de passar a mensagem não só meramente pelas letras, mas através do som. Muitas vezes podemos não estar prestando atenção no que está sendo cantado, mas o ritmo pode ser alegre ou triste e isso muda o nosso humor, enquanto ouvimos e conseguimos ter a noção do ‘recado que está sendo passado’.

Capa do terceiro álbum da banda. Imagem: divulgação.

Um exemplo claro, é o projeto Mães Morrendo. Surgido em 2019, o Mães Morrendo consegue explorar as mazelas da sociedade, não só pelas letras , mas pelo ótimo, sombrio e tenso doom metal executado.

Com um ritmo cadenciado, uma energia sombria, sem ‘quebras’ e quase sem solos, ficamos atentos a tensão imposta na música e em suas letras.

O projeto surgiu em 2019, através da cantora e multi-instrumentista Melissa Rainbow. Nesse período, já foram lançados 4 álbuns de estúdios. As temáticas são relacionadas a miséria, pobreza, exclusão, preconceitos e suas consequências: depressão e pensamentos suicidas.

Melissa é oriunda de São Joaquim da Barra/SP e é uma mulher trans, negra e pobre. Na entrevista, aborda os planos da banda, as músicas  e o que pensa sobre o heavy metal e uma parte de fãs conservadores.

Confira:

1) Fale sobre o início da banda: quando, como e por quê surgiu o projeto? Quem são as pessoas por trás do ‘Mãos Morrendo’ e que outros grupos você já tocou antes? Quais as influências?

Esse é um projeto solo, iniciado em janeiro de 2019, eu tinha umas composições que não caberiam muito bem na minha banda de ‘doom metal tradicional ‘Dirty Grave’, e decidi fazer um projeto paralelo.

2) O Mães Morrendo já possui 4 álbuns de estúdios feitos entre 2019 e 2020? Porque lançou tantos projetos em pouco tempo? Já fez shows? Pretende fazer após a pandemia?

Após a pandemia, os planos são de encontrar pessoas dispostas a entrar no projeto e por a banda pra rodar. Ainda não rolou um show com a Mães Morrendo, não vejo a hora, e justamente por estar em um momento em que seria difícil formar uma banda eu optei por gravar os álbuns e acho que faço isso compulsivamente.

3) O som é uma mistura interessante com doom e stoner, além de momentos mais thrashs. A sonoridade dá um ar bem dramático e tenso, mostrando os problemas do brasileiro médio no dia a dia. Como foi achar o ritmo ideal para transmitir uma sensação dramática, sem a necessidade das letras (embora estas sejam importantes e fundamentais na música)?

Eu acho que nunca procurei um ritmo ideal, creio que é só uma expressão em que eu procuro trabalhar, dar alguma forma, acho que sai dramático porque talvez eu veja as coisas dessa forma.

4) Em algumas músicas,  é comum você usar o cachorro como uma metáfora para o sofrimento do dia a dia. Por que o cão foi escolhido para falar sobre os problemas sociais?

Para mim é como se o cachorro fosse uma metáfora para eu mesma, de onde venho um cachorro é só um cachorro e não havia a romantização pet que há hoje da qual faço parte (risos). Eu amo meus cachorros, mas é como se representassem uma classe abaixo a nossa, você o ama e alimenta, porém, o lugar dele é no quintal, “não são como a gente”, eles me foram apresentados assim e eu me identifiquei com eles.

5) Com uma temática pesada, cruel e realista, imagino que chocam muitas pessoas.Há espaço no Metal, em que há muitos conservadores, para tratar esses temas? Já ouve alguma retaliação por parte de fãs? E os progressistas no metal já te elogiaram?

Ainda não passei por nada assim, mas também o projeto ainda precisa começar a rodar para chegar a mais pessoas. Com certeza não irá agradar a todos, mas isso nunca me incomodou em relação a música. Quanto aos conservadores, eu quero mesmo distância, e aos progressistas mais movimentação.

6) Por fim, quem quiser saber mais sobre a banda, onde procurar material para escutar e os álbuns?

Está disponível em todas as plataformas digitais, é só procurar por Mães Morrendo, e tem o álbum duplo “Extremamente Corrosivo”, que contém os três primeiros álbuns e um EP. Para contato ou qualquer novidade é só acompanhar no Facebook ou Instagram: @maesmorrendo.

Escrito por

Leonardo Cantarelli

Headbanger, jornalista formado, autor de 2 livros e mesatenista!