O Korzus conseguiu se firmar como um dos maiores nomes do thrash metal brasileiro no cenário internacional. Ao lado de Sepultura, Torture Squad, entre  tantos outros, a banda ganhou notoriedade e chamou a atenção dos fãs e mídia de todo o mundo. Não seria exagero dizer que 2011 talvez seja o grande ano do Korzus. A banda já emplacou uma turnê internacional, ganhou muito mais visibilidade no seu próprio País e será uma das atrações da quarta edição brasileira do Rock in Rio, no dia 25 de setembro.

Na semana passada, Marcello Pompeu e Heros Trench abriram as portas do seu estúdio Mr. Som, em São Paulo, para o Portal do Inferno. Pompeu falou sobre esse momento especial que o Korzus vive agora e tantos outros fatos que marcaram os últimos 28 anos de música.

Portal do Inferno: O Korzus tem 28 anos de carreira. Comente um pouco sobre essa trajetória e como você avalia a evolução do som da banda em todos esses anos? Qual é o “segredo” para sempre se renovar?
Marcello Pompeu:
A evolução é explicada pela experiência que a gente adquire em 28 anos. Não dá para comparar os músicos que éramos em 1983 com o que somos hoje. A evolução é natural, se você não para de tocar, você vai aprendendo mais. E o “segredo” pro nosso som é a continuidade, perseverança. E o principal, não fugir das raízes e da música que a gente acredita, a satisfação de ouvir nossa música tem que vir primeiro de nós e, depois, dos outros.

Quando a gente começou a tocar, os primeiros sons eram uns punks muito mal feitos. Não penso que tivemos uma renovação, ou tentamos algo diferente, tocamos um thrash metal old school, estilo Bay Area, e focamos nisso. O segredo é tempo, mas a renovação é a experiência que ganhamos de um disco para o outro e seguimos defendendo o nosso estilo musical.

P.I.: No começo da carreira, os primeiros trabalhos foram gravados em português. Depois, no Pay for your Lies, além das músicas do Sonho Maníaco (em português), vieram as primeiras composições em inglês. E, a partir do Mass Illusion (1991), vocês passaram a gravar em inglês, basicamente. Como foi e por que aconteceu essa mudança nessa postura da banda?
Pompeu: Quando começamos, não tínhamos ideia de que poderíamos gravar em inglês. Nós ouvíamos os discos de bandas gringas, mas nunca passou pela nossa cabeça em fazer o mesmo. E a gente nem sabia falar inglês. Quando surgiu o Sepultura, eu até achei engraçado a banda brasileira gravando em inglês e, com o tempo e o resultado da carreira deles, surgiram outras bandas que seguiram o mesmo caminho. O mercado internacional estava aberto para bandas brasileiras e nós sentimos que poderíamos, também, tentar essa carreira fora do País. Se você for reparar na minha pronúncia no Pay for your Lies, é bem zoada, muito ruim, já no Mass Illusion melhorou um pouquinho. E eu me preocupo em melhorar o meu inglês um pouco mais a cada disco.

Não abandonamos definitivamente as composições em português. Todos os nossos discos têm uma música no nosso idioma, pelo menos, para manifestarmos nossas ideias claramente para o nosso público, que é brasileiro em sua maioria. Vamos manter sempre essa tradição na banda. E, nos shows que fizemos fora do Brasil, no começo do ano, colocamos Correria no setlist e foi um sucesso!

P.I.: O que o Discipline of Hate traz de diferente dos outros álbuns do Korzus?
Pompeu:
É o amadurecimento do nosso trabalho e a continuação do Ties of Blood. Eu acredito que o Korzus chegou, musicalmente dizendo, num estágio de mostrar o que será para o resto da carreira. Conseguimos isso no Ties, e o Discipline é a evolução e nossos próximos discos seguirão esse caminho. Nossos fãs podem esperar isso da gente, tudo dentro desse estilo, com essa pegada, pauladas, músicas cadenciadas. Certas músicas com swing também. O Discipline tem um pouco mais de melodia na voz que, talvez, eu use um pouco mais ainda no próximo trabalho.

P.I.: Como estão os preparativos para o show do Rock in Rio? Vocês vão tocar com o The Punk Metal Allstars, que é formado por um time de peso – East Bay Ray (Dead Kennedys), na guitarra, Michael Graves (ex-Misfits, Marky Ramone’s Blitzkrieg), na voz, Gary Holt (Exodus), na guitarra e Marcel “Schmier” Schirmer (Destruction), no baixo. Como será esse show?
Pompeu:
Estamos ensaiando bastante. A galera pode esperar energia máxima, empolgação, empenho, credibilidade no rock. Teremos algumas surpresas, vai ser um grande show. Nós estamos nos dedicando e queremos fazer uma apresentação histórica para a banda. Este é, até o momento, o maior evento da nossa carreira e a gente quer passar uma mensagem superbacana. Queremos que as pessoas se divirtam, que esqueçam os seus problemas um pouco e, queremos decretar de vez que a bandeira do heavy metal, do rock, do punk está cada vez mais alta, não só no mundo, mas no Brasil, principalmente. Uma semana depois (30/9), vamos fazer esse show aqui em São Paulo também, no Blackmore Bar, e será um show maior, em questão de tempo. Pra galera de que, de repente, não poderá ir ao Rock in Rio, o Korzus vai dar esse presente.

P.I.: Como é para você, Marcello Pompeu, ter visto as outras edições do Rock in Rio como fã, como público e, hoje, ser uma das atrações? Como você se sente com isso?
Pompeu:
É louco! Eu diria pra você que eu jamais imaginaria que um dia eu tocaria no Rock in Rio. Eu achava que a minha carreira ia acabar sem eu ter essa oportunidade. Eu já fui assistir lá no Rio, acompanhei pela TV e sempre pensei “Puxa, se eu tivesse a chance de tocar aí”. Essas são as surpresas da música, sabe? Quando você menos espera, uma coisa grandiosa acontece. É o grande momento da minha vida e acredito que para os caras da banda também. Se eu voltar ao tempo, pensar quando eu estive lá no Maracanã, assistindo ao Rock in Rio, é louco imaginar que em 2011 eu estaria em um dos palcos do festival.

P.I.: Vocês estão participando da campanha de doação de instrumentos, promovida pelo Rock in Rio. Fale um pouco sobre essa iniciativa. O Korzus se envolve, se alguma forma, em algum outro tipo de projeto social?
Pompeu:
Já fizemos alguns shows beneficentes, com arrecadação de alimentos. E, agora, a gente teve a oportunidade de ajudar essa causa social, junto com o luthier e fabricante de guitarras, Music Maker, que cuida de todos os instrumentos da banda. Quando perguntaram se poderíamos ajudar nessa campanha, buscamos alguém que pudesse dar essa força e o Music Maker deu uma guitarra. Fizemos um kit bem bacana também com caixa de baqueta, pele de bateria. Acho importante dar a chance para pessoas que não têm condições de comprar equipamentos para praticar a música, é melhor do que ficar numa esquina vendendo drogas, assaltando as pessoas ou tentando prejudicar alguém de alguma forma. Então, o Korzus é solidário a isso.

P.I.: Na semana passada, vocês gravaram o clipe da música I Am Your God. Esse som, oficialmente, não está no Discipline. ale um pouco sobre ela e o  conceito do clipe.
Pompeu:
Nesse próximo videoclipe, que será lançado em breve, a gente também vem com um alerta social, contra a violência doméstica. É uma música inédita, que seria um bônus para o disco do Japão, mas não saiu por causa dos problemas que eles enfrentaram, no começo do ano, com tsunami e terremoto. Guardamos essa música e achamos que esse é o momento certo para lançá-la.

P.I.: E ainda sobre o Rock in Rio, desde o começo do ano, mais ou menos, vocês estão falando em formar o maior wall of death do mundo. E pelas reações no twitter, facebook, que vemos por aí, os fãs estão muito empolgados com isso. Como surgiu essa ideia?
Pompeu:
O Antônio teve essa ideia. Vamos ver na hora o que os fãs vão fazer. Espero que não tenha violência e não se torne um problema para nós. Mas, ainda bem, não tive dor de cabeça com os walls of death que comandei até hoje. Se conseguirmos fazer o maior do mundo, não será só uma honra para o Korzus, como também vai colocar o heavy metal brasileiro num patamar diferenciado. Vamos mostrar pros gringos que podemos fazer também uma prática tão comum pra eles lá. O heavy metal brasileiro só tem a ganhar com isso.

P.I.: No primeiro semestre, vocês fizeram uma turnê extensa pela Europa, com o Ektomorf. Fale um pouco sobre essa experiência.
Pompeu:
Foi muito legal. Fizemos 17 shows, em quatro países. Tivemos o contato direto com o Ektomorf, uma rapaziada muito legal. O público nos recebeu muito bem e a tour e tudo foi muito organizado. Enfim, é a primeira tour dessa fase nova, voltaremos em março do ano que vem. O Ektomorf é uma banda muito legal ao vivo, é uma pena que não seja tão conhecida do público aqui. O show deles é empolgante e pudemos desempenhar um grande papel nessa turnê com eles. O Zoli (Zoltan Farkas, vocalista) fez uma participação especial no Discipline, cantando We Are the Same e espero que nossos caminhos possam se cruzar de novo nos palcos.

P.I.: Na opinião de vocês, como está o cenário europeu atualmente para as bandas brasileiras?
Pompeu:
Eu acho que eles sempre estão abertos a novas bandas, até porque eles têm uma cultura de rock ‘n’ roll muito mais tradicional e antiga que a nossa. Acredito também que a Europa, hoje, o centro do metal está na Alemanha e a cena é muito forte. Mas a gente também vê força aqui no Brasil. Se temos essa quantidade de shows internacionais, é porque tem público. Recentemente, fizemos um show no Carioca Club (em São Paulo), com o Torture Squad, e tivemos um ótimo público.

O mercado internacional não é só aberto para bandas brasileiras. A cena recebe, sim, bandas de qualidade. Se você tem qualidade, tem a chance de tocar lá fora, com certeza eles vão apreciar seu som. Todo mundo tem seu espaço, seu momento. Se o seu som for ruim, você não terá a chance lá fora, aqui ou em lugar algum.

P.I.: Quais bandas nacionais você acha que se destacam, atualmente?
Pompeu:
Sepultura, Torture Squad, Música Diablo, Astafix – a banda do Wally, que era do CPM22 –, Fúria Inc., Red Front, Claustrofobia, que a gente nem precisa dizer. Tem o Shadowside, que tá fazendo um bom sucesso fora do Brasil, o Híbria, que manda bem no Japão. Eu acompanho essas movimentações pela internet. Tem muita banda boa brasileira, hoje em dia.

P.I.: Recentemente o Mike Sifringer, do Destruction, disse que não ouve muito coisa nova, porque tem muita porcaria por aí. Você concorda com isso?
Pompeu:
Eu, como produtor musical, ouço muitas bandas e até fiz a produção de algumas. Eu acredito, realmente, que são poucas bandas novas que têm qualidade, mas existem. E acho que é por isso, também, que a gente observa tantas bandas antigas voltarem. Até certo ponto, eu concordo, por outro lado, existem bandas boas, hoje em dia, sim.

P.I.: Além da banda, você e o Heros também têm o estúdio Mr. Som. Como é essa rotina de produção musical?
Pompeu:
É um trabalho paralelo, tivemos essa oportunidade de investir no meio musical, é uma coisa que a gente gosta muito de fazer também. São, talvez, 18 anos que a gente faz isso e, em 2009, tivemos a felicidade de ganhar um Grammy Latino, com o álbum Depois da Guerra, do Oficina G3. Já fizemos mais de 500 produções e vimos a transformação de muitas bandas. É um trabalho gratificante, pois, não se trata do meu som, da minha música, se trata do trabalho dos outros, que estão confiando a mim para que ele saia legal.

P.I.: Recentemente, o Heros e o Antônio foram eleitos pelo público do programa Leitura Dinâmica, da Rede TV!, como os melhores guitarristas do Brasil. O que isso representa para o Korzus?
Pompeu:
Vitória, reconhecimento. Coisas que, nesses 28 anos, aconteceram poucas vezes, apesar de acharmos a nossa carreira sensacional. Essa votação é o reconhecimento, é saber que não foram 28 anos jogados fora. É saber que nosso último CD é uma realidade, que não recebeu nota dez à toa. É saber que temos dois grandes guitarristas na banda, isso é um privilégio. Fico muito feliz, pois além de ser uma conquista para a banda, é uma conquista para dois músicos muito bons do País. Com isso, acreditamos que estamos fazendo a coisa certa.

P.I.: E, por falar no Leitura Dinâmica, eles têm mostrado muitas bandas de heavy metal na programação. Você acha que a mídia mais popular, não especializada em rock, está mais aberta a esse tema?
Pompeu:
Na verdade, eu vejo essa vontade mais no Leitura Dinâmica, mesmo. Eu acho que a Rede TV! vai conseguir mudar muita coisa na TV aberta. Se tem bastante matérias de heavy metal, é porque eles têm retorno com isso, senão eles não insistiriam. Eles já entenderam que o estilo existe, que existe público e que vale à pena falar sobre isso. Acredito que, com o passar do tempo, o espaço vai melhorar pra gente nas mídias que não são especializadas. Eu só tenho a aplaudir essa iniciativa da Rede TV! e pedir para que o público continue apoiando, porque, dessa forma, o nosso movimento só vai crescer e ter seu merecido espaço e respeito. Eu estou indo do meio para o final da minha carreira, mas tem uma geração nova vindo aí e eu quero deixar um caminho bem legal para ela.

P.I.: Quais são os planos para a banda no fim desse ano, após o Rock in Rio, e para o ano que vem? Já tem previsão de um novo álbum?
Pompeu:
Já planejamos o próximo álbum sim. Nosso maior objetivo é não perder esse foco, pois o Korzus tem a mania de demorar uns cinco anos entre um álbum e outro (risos). Assim que ele for lançado, pretendemos também continuar investindo na nossa carreira internacional. E vamos seguir sendo esse instrumento do heavy metal. O heavy metal ainda é maior que o Korzus, e o Korzus é maior do que as pessoas que fazem parte do grupo, essa é a filosofia, desde 1983, e vai continuar assim até quando tivermos forças para subir no palco e passar nossa mensagem, nossa música.

P.I.:Muito obrigada pela entrevista. Gostaria que você deixasse uma mensagem para os fãs e leitores do Portal do Inferno.
Pompeu:
Deem o apoio aí pro Portal do Inferno, é uma iniciativa legal de apoiar o metal nacional. Hoje, eu estou aqui representando o Korzus e, se não houver o interesse do headbanger, o movimento não vai pra frente. Eu agradeço, em nome do Korzus, o tempo e espaço que vocês disponibilizaram para nós.

Escrito por

Renata Santos

Sou formada em jornalismo e colaboro com sites de música há quase dez anos. Integro a equipe do Portal do Inferno desde 2011.