Fugindo um pouco do estilo dos eventos que a produtora Overload costuma propor, nasceu o Overload Beer Fest contando com um line-up envolto com a nata do thrash/hardcore nacional e de dois ícones internacionais da história do metal mundial.
As dependências do Carioca Club ficaram completamente lotadas de malucas e malucos sedentos por ouvir músicas rápidas e pesadas, que não medem muitos esforços para fazer as rodas de fogo abrirem na pista. Cerveja pro alto e vamos lá.

Ao melhor estilo violência só por diversão, os paulistanos do Blasthrash abriram as apresentações tocando músicas dos seus dois discos full-lenght entre outros singles e split’s lançados durante os mais de 20 anos de banda. A qualidade é aquela de sempre, sem muito tempo pra respirar em um set enxuto porém bem montado e ensaiado exclusivamente para o festival. Destaques para a clássica “Possessed by beer” e “On The Shores of Uncertainty” que tem um clipe bem legal dirigido por este que vos escreve.

Seguindo com a porradaria, ou melhor, com o Surra, banda de thrashcore cantado em português vinda de Santos/SP, acentuam a dinâmica para as letras de protesto em uma avalanche sonora fazendo o pau comer na pista do Carioca Club com altos circle pit durante o show inteiro. Anunciaram o lançamento de um novo disco para Abril de 2019, com 17 músicas na bolacha. Promete vir coisa boa pela frente!

Quem já viu o D.F.C. ao vivo sabe da potência das apresentações e nesta tarde não foi diferente. Entrando no palco já com o jogo ganho, os brasilienses donos de um humor ácido e único, com o vocalista Túlio e companhia atacaram na melhor linha Thrash/Hardcore/Crossover americano do final dos anos 80, começo dos 90. São uma instituição do HC no Brasil, na ativa desde 1993 sem nenhuma interrupção, eles continuam colocando o dedo na ferida e não medem esforços para atacar o sistema capitalista e os políticos corruptos que assolam Brasília e o país. A tradução sonora disso são canções rápidas, com menos de um minuto.

O resultado foi uma apresentação cheia de energia, interação total público/banda em uma relação que vem sendo construída há muitos anos. São Paulo sempre foi um dos grandes palcos para o DxFxCx se apresentar desde o início da banda. O último disco de inéditas é de 2016 e se chama “Sequência Animalesca de Bicudas e Giratórias”. Para terminar a apresentação de forma apoteótica, o hino da rapaziada “Molecada 666”.

O que já estava sendo ótimo ficou ainda melhor. Os gigantes do Ratos de Porão, ícones da música extrema, respeitados mundialmente e que carregam no colo uma das melhores e mais constantes discografias dentre as bandas lendárias do estilo. João Gordo, Jão, Boka e Juninho são a linha de frente do hardcore nacional. Músicos exímios em seus instrumentos, continuam mais extremos do que nunca. Quanto mais velho o RDP fica, só melhora. O show é aquele caminhão de clássicos como “Beber até Morrer” e “Aids, pop e repressão” mas, que nesse show focou para os sons mais puxados para o Thrash Metal, como as músicas do disco “Brasil” que está completando 30 anos. Grande apresentação, entregando o público aquecido e pronto para as bandas internacionais da noite.

A primeira delas veio diretamente da Alemanha. São conhecidos como os reis da cerveja, a banda mais fanfarrona do Thrash Metal mundial, o Tankard! Ergam suas canecas pois o que vimos foi uma verdadeira festança. Aos gritos de “Olê, olê, olê Tankard!! Tankard!!!” as cortinas se abriram e logo no começo tocaram as clássicas “Morning After” e “Zombie Attack”, com a banda correndo de um lado para o outro como malucos. Eles transmitiram energia para o público que se matava de tanto agitar na pista. O regente da bagunça tem nome, é o senhor Andreas “Gerre”, a simpatia em pessoa. Sorrindo o tempo todo, o vocalista agradeceu a oportunidade de estar de volta a capital paulista e que, desta vez, escolheram o setlist abrangendo os 37 anos de carreira da banda. Pelo lado das músicas antigas, “Minds on the Moon” e “Chemical Invasion”, tivemos as novas “Pay to Pray” e “One Foot in the Grave” música que dá nome ao último lançamento da banda de 2017. O baixista Frank Thorwarth é outro membro da formação original do Tankard, completando a linha de frente o guitarrista Andy Gutjahr e o baterista Olaf Zissel.

Celebrando o que há de melhor no Thrash, a música escolhida para fechar show foi cantada em uníssono pelos presentes, “(Empty) Tankard” e que fez chover cerveja na cabeça de todo mundo. O clima era de comédia, o Gerre ficou batendo com o microfone na própria barriga, o tipo de cena que você nunca queria ver na vida, mas dentro desse contexto é mais que legal. Nesse ponto, o Overload Beer Fest já estava triunfando mas eles não estavam de brincadeira e a temperatura do festival subiu exponencialmente igual ao calor dentro do Carioca: era hora dos headliners da noite.

Diretamente das ruas sujas e perigosas de New Jersey e New York dos anos 80, ao lado de bandas como Anthrax, Metallica, Exodus, Slayer e Testament forjou seu estilo desde o zero. Fechando a noite em grande estilo, os gigantes do Thrash Metal, a lenda… Overkill!!!!
Ver a banda ao vivo é uma experiência única. Pensa em uma banda que toca alto? Multiplica 1000x e só assim você vai ter uma ideia da pancada sonora que os ouvidos do público foram estourados sem dó nem piedade. Músicas como “Rotten to the core” e ” Hello From de gutter” com sua levada contagiante soavam como as gravações originais, tamanha fidelidade da banda ao vivo ao que é gravado em estúdio.

Carregando nas costas 19 discos de estúdio e incontáveis shows no currículo, o baixista D.D. Verni e o vocalista Bobby Blitz são a história do Thrash Metal vivas e botando pra quebrar, afinal de contas, não são todos os dias que você tem a oportunidade de ver gênios na sua frente. Era inegável a alegria em ver o público cantando “In Union We Stand” acreditando ser esta a maior verdade universal.

Bobby Blitz mais uma vez se apresentou em alto nível. Passa o tempo e sua voz rasgada e suja continua a mesma. Ele elogiou o público de São Paulo dizendo que é um dos melhores públicos de metal do mundo e que juntos formam a “Wrecking Crew”. O Overkill teve seu apogeu na segunda metade dos anos 80, entrando nos 90 mudando um pouco a proposta da banda, optando por inserir alguns grooves dentro do Thrash Metal, a ousada opção fez muitos fãs torcer o nariz enquanto outros gostaram. Desta fase, tocaram “Coma” e “Infectious” do Horroscope de 1991.

Ao final do show, passaram por músicas de toda a carreira e deixaram para o bis seu maior clássico “Elimination” e, ao som de “Fuck You” a banda se despediu do público brasileiro com a melhor recordação possível: os ouvidos zunindo por mais de uma semana.

Torcemos por mais festivais com esta qualidade de infraestrutura e coesão no line-up que, na junção das bandas, se mostrou forte e diversificado. Esperamos que a próxima edição cresça e migre para uma casa maior para que possa acomodar melhor os presentes e mais mulheres no palco. Parabéns pela iniciativa da Overload em trabalhar com bandas nacionais, valorizando o trabalho feito dentro do país. Saldo mais que positivo. Que venha o Overload Beer Fest segunda edição.