Riverside. Foto: Leandro Pena.

A banda polonesa Riverside aportava pela terceira vez em nosso país no dia 03 de março de 2024 para uma única apresentação, dessa vez divulgando o seu último lançamento, o ótimo “Id.Entity”, de 2023, como parte da “Id.Entity Latin America 2024”, composta por oito datas em seis países (México, Colômbia, Costa Rica, Argentina, Brasil e Chile).

Não sei explicar se foi por conta do show ter sido marcado em um dia da semana (quarta-feira), mesmo começando e terminando em um horário digno, ou se pelo fato de outro evento underground rolar em São Paulo na mesma data (show do Russian Circles), mas o Carioca Club não estava lotado instantes antes de seu início – porém, quem compareceu era realmente fã da banda.

Pontualmente às 20h30, Mariusz Duda (baixo, voz), Michał Łapaj (teclado, órgão, backing vocals), Piotr Kozieradzki (bateria) e Maciej Meller (guitarra) subiram ao palco – e já com um público maior a essa altura – com a dobradinha “#Addicted” e “02 Panic Room”, dos álbuns “Love, Fear and the Time Machine”, de 2015, e “Rapid Eye Movement”, de 2011, respectivamente.

Na sequência, a primeira do mais recente álbum, que seria a base da noite, foi executada: “Landmine Blast”. Mariusz, entre uma música ou outra, conversava com a plateia, agradecendo pelo carinho dos fãs – tanto os de outras passagens da banda quanto os que os assistiam pela primeira vez – e sempre se utilizando de bom humor, como quando mencionou que alguns comparavam a banda com o Dream Theater, o que ele disse ser errado, pois a banda é mais progressiva do que prog metal, e não se utiliza de solos ultrarrápidos (imitou o som com a boca, arrancando gargalhadas dos fãs). Nesse quesito, fazendo uma comparação do estilo de som praticado pelo Riverside, poderíamos mencionar o Marillion, pela construção musical adotada e pelos solos atmosféricos, executados perfeitamente por Maciej, que lembram bastante os de Steve Rothery – como, por exemplo, na canção “Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)”, seguida de “Left Out”, que contou com o auxílio da audiência, cantando em coral após seu encerramento.

As letras de “Id.Entity”, compostas por Mariusz, falam, de um modo geral, da nossa identidade (óbvio!), muitas vezes para se adaptar ao mundo moderno no qual vivemos, ou por pura imposição de algo maior, onde nitidamente podemos notar referência ao best-seller “1984”, de George Orwell, ou “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley – mais evidente em “Big Tech Brother”, facilmente uma das melhores composições dos poloneses. Ou da busca / perda / ausência dela, como em “Post-truth” ou em “The Place Where I Belong”, com seus mais de treze minutos, que se estenderam mais ainda por conta da plateia que, após encerrada, continuou com o “Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh-ooh” por mais um tempo, demonstrando a sinergia perfeita entre banda e público.

Piotr, um dos remanescentes da primeira formação, apesar de escondido atrás de sua bateria, executou perfeitamente suas notas percussivas, que casavam perfeitamente com as de seu parceiro (e também fundador) Mariusz. Mas não posso deixar de mencionar o tecladista Michał, o mais animado do quarteto com certeza, distribuindo sorrisos e fazendo poses para os fãs e fotógrafos se deleitarem. E seus teclados não eram obstáculo para ele se agitar nas partes mais “dançantes” do set-list. Uma delas, e talvez uma das mais esperadas da noite, foi “Friend or Foe?” – uma composição que, principalmente pelo trabalho de Michał, nos faz viajar até a década de 1980 – lembrando canções do AOR, por exemplo – e até nos remete à banda norueguesa de pop A-Ha (o timbre de voz de Mariusz contribui muito para essa segunda impressão). Música, inclusive, que encerrou a parte regular da apresentação.

Instantes depois, os poloneses retornam para executar, também do “Id.Entity”, “Self-Aware” (mais “ooh-ooh-ooh-ooh-ooh”), emendada com “Driven to Destruction” em sua parte final e apenas instrumental. E do álbum “Second Life Syndrome” (o mais antigo a ser lembrado na apresentação, lançado originalmente em 2005), “Conceiving You” foi executada. Com pouco mais de três minutos, teve uma apresentação estendida, com Mariusz pedindo, em suspiros, a participação do público, que ao seu comando, soltava gritos em forma de suspiros. Inusitado, diferente, mas um momento inesquecível para quem esteve presente, e que encerrou com chave de ouro duas horas de espetáculo.

Após a apresentação em nossas terras, a banda se apresenta em Santiago (Chile), para encerrar a “Id.Entity Latin America 2024” como atração principal do CL.Prog Festival.

Set-list
#Addicted
02 Panic Room
Landmine Blast
Big Tech Brother
Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)
Left Out
Post-Truth
The Place Where I Belong
Egoist Hedonist
Friend or Foe?

Self-Aware / Driven to Destruction
Conceiving You

GALERIA DE FOTOS

Fotos: Leandro Pena.

(Agradecimentos à produtora Overload)