Por: (Arte Metal)

Como Earth (pseudônimo), o músico, produtor e compositor Roger Fingle (Seduced By Suicide) comanda o Blood Tears, grande nome da cena Doom Metal do sul do país que, após 18 anos, finalmente soltou um full-lenght, Thress Wishes (2016). Mostrando-se perito no estilo e trazendo uma sonoridade focada nos anos 90 – mais precisamente seu final – o disco mostra qualidade acima da média e com certeza chamará atenção das almas mais sombrias. Conversamos com Roger que, em boas palavras e objetividade, falou um pouco mais deste seu novo trabalho, além de sua carreira de uma forma geral, inclusive como produtor.

Você tem o Blood Tears há quase 20 anos. Apesar de ter lançado duas demos, um EP e um Split, somente 18 anos após o início do projeto finalmente você lançou o primeiro álbum, Three Wishes. Por quê?
Roger Fingle: Eu não tinha planos de lançar este disco, provavelmente continuaria apenas lançando singles esporádicos. Porém o Vitaly do GS Productions, um selo russo do estilo, me propôs o lançamento de uma coletânea com todas as músicas já lançadas. Então ao invés disso preferi gravar algumas músicas novas e remixar algumas antigas para que todas tivessem uma sonoridade única. Como em um álbum, não coletânea.

Aliás, você considera o Blood Tears um projeto ou algo que vai além disso?
Roger: O Blood Tears é algo no qual foco apenas de tempos em tempos, embora quando o faço é com total dedicação e perfeccionismo extremo.

O disco traz uma sonoridade que caminha entre o Gothic Metal e o Doom Metal, mas caindo na fórmula que se fazia antigamente na junção dos estilos, isto é, algo mais soturno e menos pomposo. Você concorda? Isso foi algo intencional ou fluiu naturalmente?
Roger: Concordo. É proposital, pois em todos os momentos em que trabalho com o Blood Tears eu me imagino no final dos anos 90 e procuro inclusive me limitar tecnologicamente ao que eu tinha na época. E também é natural, pois a minha ideia de perfeição dentro deste estilo é definida por discos lançados naquela década.

As músicas também são dotadas de um clima obscuro e não tão depressivo como é muito comum no estilo. Este foi um dos seus objetivos em Three Wishes?
Roger: Sim. Apesar de contraditório, eu gosto de arte melancólica, mas não de tristeza. Não sou triste e nem teria motivos pra isso. O melhor exemplo dessa linha de pensamento é a letra de Ultimate meeting onde procurei escrever algo positivo, ainda que totalmente sob a ótica Doom.

Aliás, há músicas dos trabalhos anteriores regravadas no novo disco. De qualquer forma, qual o grande diferencial, além de ser um álbum completo, de Three Wishes para os lançamentos anteriores do Blood Tears?
Roger: Acredito que a atenção milimétrica a todos os detalhes de produção e ao fato de ser a visão de uma única pessoa. Em outras épocas as músicas soavam menos datadas e limitadas, pois cada membro trazia para o Blood Tears o som de suas épocas e estilos favoritos.

Você trabalha sozinho no Blood Tears, qual a vantagem e a desvantagem de desenvolver um projeto destes praticamente sem a ajuda de ninguém?
Roger: As duas desvantagens são que não posso fazer shows e que todos os custos (design, site, CDs, registros, etc) pago sozinho. A grande vantagem é que posso deixar as músicas exatamente como quero e não preciso esperar por outras pessoas fazerem a sua parte ou correr o risco de não gostar e ainda assim ter que usar, duas coisas que vejo acontecer com frequência em bandas que produzo.

Live
Blood Tears

E qual a repercussão do disco até então, tanto por aqui quanto do exterior.
Roger: Isso é algo que eu não sei. Como nenhuma das minhas bandas têm objetivo comercial, eu não costumo acompanhar o que é falado à respeito. Exceções acontecem quando recebo links de amigos ou redatores, neste caso sempre vejo. Porém outro ponto é que de alguns anos pra cá, quase que qualquer lançamento de Metal, independentemente da qualidade de composição, execução ou produção, recebe comentários e resenhas muito positivas. Então quando falam bem de minhas bandas não tenho como saber se é um comentário honesto ou padrão.

Aliás, além do Blood Tears você tem outros projetos como o Seduced by Suicide. O projeto ainda existe, a quantas anda?
Roger: Sim, em julho irei fazer a reedição do Gothic Dream (2006) com cinco faixas bônus em jewel case feito no Brasil e digipack feito na Rússia pelo selo GS Productions. Ainda neste ano também irei liberar mais uma música em forma de single. Eu já tenho material para um full, porém ainda não decidi se gravarei uma música por vez ou em forma de álbum.

Você também trabalha como produtor. Como está o mercado nesta área tanto no Metal como de uma forma em geral?
Roger: Aqui na minha região (serra do RS) tem muitas bandas de Rock e Metal, e várias delas são muito boas. Por este motivo e também por trabalhar com bandas de cidades distantes, apesar de também sentir as oscilações da economia como qualquer outro prestador de serviços, eu sempre tenho trabalho.

E no que você vem trabalhando ultimamente? Há alguma banda e/ou projeto que você está trabalhando e poderia nos adiantar algo?
Roger: Sim, sempre tem algo legal! Recentemente finalizamos a gravação da segunda série de vídeos do Demétrius Locks, um baterista gaúcho de renome internacional. Algo muito legal em trabalhar com alguém assim é q tudo é feito de verdade, sem edições, sem truques. O que é visto nos vídeos foi realmente tocado e gravado com microfones (sem triggers) no momento da filmagem. Semana passada finalizamos as gravações das baterias do segundo CD do Hollow, uma excelente banda de Thrash Metal clássico, porém mais polido do que o usual aqui da serra. Dentro de uns três meses deve estar tudo pronto.

Bateria
Blood Tears

Aliás, você só não produz Rock e Metal, mas outros estilos também. Qual a grande diferença do Metal para os estilos digamos ‘comuns’ na hora de se produzir?
Roger: Metal é com certeza bem mais difícil de fazer soar bem do que outros estilos, pois são muitas notas ao mesmo tempo. Ainda assim todas precisam de muita definição e peso. Com o passar dos anos eu fiz inúmeras experiências buscando técnicas para alcançar isso, e a cada dia as melhoro ou invento novas formas de fazer ainda melhor. Quando alguém de outro estilo musical me procura para produzir seu álbum eu deixo claro que usarei estas mesmas técnicas. O resultado são músicas mais calmas, porém com timbres individuais pesados. Algo que sempre acaba agradando o cliente não Metal. No terceiro player do meu site tem alguns exemplos de estilos não metálicos produzidos assim.

E tem algum trabalho em específico que você se orgulha do resultado final, enfim, da sua própria atuação como produtor?
Roger: Vários e vários… Eu tenho muito orgulho de quase tudo o que faço! É claro que por motivos além do meu controle como qualidade dos músicos ou de seus instrumentos, o resultado não é sempre tudo o que eu gostaria. Mas sempre, sem exceção alguma eu faço de tudo para que a música gravada seja o melhor que o músico poderia fazer e melhorada pelo o que eu sei fazer. O meu objetivo é sempre fazer algo perfeito, independentemente da banda que eu esteja produzindo. Alguns trabalhos específicos seriam com as bandas Hate Handles, As Do They Fall, Eridanus, Caordica, Slow Bricker, Desolate Ways, Sodamned, Nenê Flores…

E que dica você daria a quem quisesse tanto ter uma banda, um projeto, quanto ser um produtor de qualidade na cena?
Roger: Em todos os casos, não seja um “faz tudo”. Descubra o que você gosta e faz bem e se especialize nisso.

Muito obrigado, Earth. Pode deixar uma mensagem aos leitores.
Roger: Eu que te agradeço! Convido a todos a visitar o meu site www.RogerFingle.com  e ouvir os meus trabalhos como produtor, além dos sites das minhas bandas www.seducedbysuicide.com e www.blood-tears.com.

Escrito por

Vitor Franceschini

Jornalista graduado, editor do Blog Arte Metal.