Entrevista por: Marcia Lillith

Olá! Primeiramente é uma honra estar conversando com exclusividade com um dos principais nomes do Black Metal sul-americano ETERNAL SACRIFICE. Antes de mais nada conte-nos, como foi o início da banda em 1993 e quais foram as principais influências que levaram à formação do ETERNAL SACRIFICE?

Naberius: No início foi tudo muito difícil, primeiro porque éramos jovens sem dinheiro e pouca habilidade musical, era muita vontade de realizar as coisas, porém as experiencias ainda eram escassas. Em 1993, dezembro, mais precisamente, nos reunimos eu e Zaebos Archangelis, primeiro baixista e resolvemos montar uma banda de Black Metal. Logo dois outros se juntaram formando o grupo: Zaraphiel e Gadianton, ambos conhecidos de Zaebos. Começamos a compor e tínhamos muitas referências, principalmente do Black Metal Grego e Italiano. Do Metal Grego nós tínhamos Rotting Christ, Nightfall, Nergal, Necromantia e Varathron; do Italiano tínhamos Necromass, Opera IX, Mortuary Drape. Também sofremos muita influência do Metal Negro Eslavo e do Português, além das tradicionais bandas brasileiras que estavam no underground da mesma época, porém as bandas brasileiras acabaram não sendo nossa principal influência. Sobre as influências músicas, elas foram importantes para nos nortear, mas uma coisa que sempre nos fez entender praticar o Metal Negro foi ter identidade própria e sobre isso nós conseguimos, já que, nesta época o Metal Negro na Bahia era muito forte e promissor e tínhamos uma característica própria de tocar a exemplo da Mystifier que ficou mais conhecida, mas as outras bandas tinham um som bem similar e nós não seguíamos essa linha musical, portanto sempre fomos muito da contramão.

Ao longo dos 30 anos de existência, quais foram os momentos mais marcantes e desafios enfrentados pela banda?

Naberius: É muito difícil enumerar sendo que trinta anos é muito tempo, nós tivemos muitas coisas marcantes, mas termos tocado pela primeira vez foi um marco muito importante para nós, diante das circunstâncias em que aconteceu. Nosso primeiro show só aconteceu dois anos depois de termos formado a banda e tocamos em Aracajú/Se, ou seja, fora de nossa cidade, fora de nosso estado. Outro fato marcante foi o lançamento de nossa primeira demo tape e isso era um fator muito importante para uma banda underground nos anos 1990. “Aradia… O Segredo Pagão de Elêusis” saiu em 1996 e nós conseguimos ter um êxito muito significativo com aquele material na época, além de estarmos com um sexteto estável e trabalhando muito. Posso citar outros pontos como o lançamento de nossa demo “Beautiful Leaves of Supreme Pagan Art (Opera Sexualis)” 1999 e nosso primeiro álbum “Musickantiga… Prédicas do Vero Báratro” 2003.

Como vocês descreveriam a evolução musical e artística do ETERNAL SACRIFICE desde o início até o momento atual? Como é a dinâmica atual entre os membros da banda e como isso se reflete na música que estão produzindo?

Naberius: claro que não dá para uma banda estagnar e ficar parada no tempo espaço, nós sempre buscamos superação e aprimoramento. Muitas coisas aconteceram devido a muitas mudanças na formação, mas a banda conseguiu registrar uma identidade própria e, geralmente, os integrantes que ingressam na banda, entendem esse processo, entendem esse registro de originalidade. De 1996 pra cá, estamos basicamente com o mesmo guitarrista que é o principal compositor das músicas e eu sempre fui o diretor artístico, componho junto com ele e, na maior parte das vezes, ele compõe as músicas, me mostra e vamos ajustando. Por um período ele esteve fora da banda, mas continuou compondo o que fez com que a identidade da banda só amadurecesse. Saímos de um estágio de inexperiência para outro patamar, quando trabalhamos no nosso aprimoramento musical, ideal dentro da banda, refinamento da filosofia e direcionamento ideológico, tudo isso colabora para que nosso trabalho se mostre coeso e, sem sombra de dúvidas, original. Hoje nós produzimos de uma forma espontânea e induzida ao mesmo tempo, nos último seis anos, nós fizemos quatro trabalhos inéditos e já estamos em estúdio com dois materiais novos só de inéditas também.

Pode nos contar um pouco sobre o processo de criação e gravação do último álbum, “Inclinavit Se Ante Altare Diabolvs est Scriptor… Regere Sinister”? Houve alguma abordagem diferente em comparação com os álbuns anteriores? Existem curiosidades interessantes ou histórias por trás das faixas deste incrível álbum duplo que vocês gostariam de compartilhar?

Naberius: O álbum foi elaborado durante um ano, os temas sou eu quem escrevo e isso eu fiz em 15 dias, depois eu vou fazendo ajustes de acordo com o processo musical, mas o tema central, e o desenvolvimento da história com roteiro, falas e narrativas já estão solidificados antes. O processo de composição desse disco foi bem árduo, porque era a proposta de ser um álbum sinistro e arrastado, as músicas foram sendo moldadas durante o ano de 2019 todo, por sinal foi um ano que praticamente não fizemos show, quando fizemos já havíamos terminado toda pré-produção e estávamos aguardando o início das gravações em 2020. A Eternal Sacrifice não tem apenas uma referência para criar nossos temas, é uma liberdade poética que valorizo muito, apesar de me dedicar muito ao estudo do ocultismo e prática, isso não interfere na produção, construção, inspiração, pelo contrário isso ajuda, contribui muito mais. As abordagens nunca são iguais, apesar do desenho das letras serem muito similares e isso é absolutamente natural porque o autor tem um perfil, tem uma característica e sua assinatura fica evidente, porém os temas vão se diversificando entre uma obra e outra. É nesse contexto que as composições temáticas giram, e as músicas seguem esses temas, o que quero dizer é que as composições musicais são feitas para as letras e não o contrário, geralmente percebo que muitas bandas fazem uma música e criam uma letra para encaixar na música, na Eternal é o contrário, eu escrevo as letras e a música precisa refletir a energia que a letra está emitindo.

As gravações deste álbum foram inusitadas, porque aconteceram num momento completamente inesperado, imprevisível que foi a pandemia. Nós começamos a gravar em janeiro de 2020 e só terminamos em janeiro de 2022, considerando um longo período em que estivemos de quarentena e tivemos de suspender algumas gravações no estúdio principal que era o SD. Os Guitarristas Charles e Orias gravaram muitas coisas em home estúdio e isso acelerou muito alguns processos, mas foi tudo muito árduo, sem citar que é um álbum duplo, longo que tem música que chega a durar 12 minutos, temos muitos arranjos, muitas variações e posso dizer que foi o álbum mais elaborado que já fizemos. Talvez a história mais incrível por trás do “Inclinavit Se…” tenha sido as descobertas que fizemos durante as gravações, eu passar por uma crise de depressão, engordar 10 quilos, ficar rouco sob o efeito colateral da pandemia e o ostracismo que o momento nos impôs. Certamente poucos sabem que fiquei deprimido nesse período, ainda porque fiz de tudo para não transparecer, mas foi um período complicado, cheio de incertezas, mas que pudemos passar por ele e superar as adversidades, certamente, sem voz, foi o disco que consegui diversificar os tipos de vocal com mais intensidade nesse álbum.

Como foi o processo de escolha dos selos Black Hearts Records e Blasphemy Productions para o lançamento do álbum? Qual foi a visão por trás dessa parceria? Aproveitando a pergunta, a banda tem planos de disponibilizar o novo álbum nas plataformas digitais? Qual é a perspectiva em relação à presença online da banda?

Naberius: Ainda no processo de gravações eu comecei a sondar alguns selos, principalmente porque o nosso selo anterior começou um processo de “gelo”, parou de responder as mensagens, não demonstrava mais nenhum interesse no nosso trabalho, então eu comecei a me movimentar no cenário contatando algumas pessoas. O Oscar da Blasphemy já havia trabalhado conosco e me perguntou se já tínhamos com quem lançar o material, eu disse que não e que queria um selo que cumprisse com o mínimo de nossas exigências, passamos a conversar e nesse tempo estava finalizando um projeto que era a Ordo Draconis Diabolism, aproveitei e dei logo as duas propostas: lançar o EP da Diabolism e o álbum da Eternal Sacrifice, ele topou, porém disse que seria difícil fazer isso sozinho, por questões financeiras e que ele estava, naquele momento, fazendo alguns lançamentos em parceria com a Blackhearts Records. Prontamente nós iniciamos uma roda de negociação e fechamos ambos os lançamentos com os dois selos em parceria. De ambas as bandas eu já tinha toda a arte pronta, toda a ideia desenvolvida e eles fizeram alguns ajustes para facilitar o lançamento e aconteceu o Diabolism em 2021 e a Eternal em 2023.

Hoje nós temos os recursos digitais como uma ferramenta incrível e nós não somos avessos a isso, porém quando pensei no “Inclinavit Se…” ele tem o peso de uma relíquia, de uma peça artística que carrega uma energia ocultista e que precisa ser manuseada. Quem teve a oportunidade de ter o material em mãos sabe que é um digibook com 40 páginas de encarte, com a história sendo contada, com símbolos, imagens, tudo isso é de uma expressividade que se alia a música, as plataformas digitais não são capazes de traduzir fielmente essa sensação tátil, as plataformas de streamings são espações virtuais e tão etéreos quanto as músicas, mas como eu já disse no início dessa entrevista, o que fazemos não é só música, é um transbordar de sensações que não podem se limitar ao etéreo apesar de compreender que o etéreo é nossa base, mas o concreto pertence a essa expiação e é sobre essa expiação que trata o “Inclinavit Se…”. Com isso também, é importante dizer que não descartamos o fato do álbum ser publicado nas plataformas, mas também não sei dizer quando isso vai acontecer.

Como tem sido a recepção de “Inclinavit Se Ante Altare Diabolvs est Scriptor… Regere Sinister” por parte dos fãs e da crítica especializada até agora? E sobre o público, houve alguma surpresa em relação à forma como os seguidores do Necrounderground interpretou e recebeu este álbum?

Naberius: até agora recebemos os melhores feedbacks possíveis, todos tem elogiado muito o trabalho em todas as suas instancias, desde a construção e execução das músicas, as fotos, o material gráfico, o material artístico do encarte e a capa do álbum que é um espetáculo a parte. Sem falsa modéstia, a capa de “Inclinavit Se…” é uma das mais bonitas capas do Black Metal dos últimos tempos. Creio que sempre buscamos surpreender, principalmente pelo espírito que temos de sermos muito honestos com nosso som e de fazermos sempre algo com marca própria, assinatura própria e isso nos deixa mais a vontade para que o público se surpreenda porque é difícil encontrar nas nossas músicas uma referência fixa como é comum a maioria das bandas de hoje.

Quais são as principais influências musicais que moldaram o som do ETERNAL SACRIFICE ao longo dos anos? E existem influências não musicais, como literatura, arte ou filosofia, que também desempenham um papel na criação da música da banda?

Naberius: as influências musicais eu já citei em uma pergunta acima e sobre influências não musicais, certamente que literatura ocultista, filosofia niilista e empirismo, também sou muito apreciador de cinema, não necessariamente de horror, mas de suspense e filmes com roteiros dramáticos que são muito bem construídos, são inspirações para mim e para os demais músicos da banda também. É um conjunto de coisas que vão se somando e acabam refletindo em nosso trabalho, principalmente quando digo que o trabalho físico é um relicário, ele está repleto de informações que não se encontram apenas nas músicas.

Existe uma mensagem específica que a banda deseja transmitir através dos rituais e conceitos explorados em suas músicas?

Naberius: Eternal Sacrifice é uma banda que propaga escuridão e cinzas, não queremos enviar mensagens para ninguém, é uma força de expressão maligna que não existe para suprir necessidade de ninguém além de nós mesmos. Nosso sentido artístico é de atribulação, veneno, estrago, apodrecimento, deterioração da carne humana… mensagens nós deixamos para os pastores, padres, bispos e líderes religiosos de suas igrejas mandarem.

Mudando de assunto, como as alterações de formação ao longo dos anos afetaram a direção musical e a identidade da banda? E a atual formação trouxe novas perspectivas ou influências significativas para o som do ETERNAL SACRIFICE?

Naberius: As mudanças de formação, em muitos casos, foram mais prejuízo que lucro! Nos últimos anos nos mantemos com a força motriz que faz a grande roda girar, e comecei a me preocupar menos em querer trazer novos integrantes para dentro da banda, visto que muitos não estavam vestindo a camisa e sim buscando outro tipo de coisa sem trabalho, sem esforço. Hoje temos uma boa formação que fez o som explodir, mas nada nesse mundo é garantido, tudo que começa um dia acaba, então vamos aproveitar enquanto há vida nesta formação até que morra definitivamente ou renasça.

Pode nos dar uma prévia dos projetos que a banda está planejando para celebrar seu 31º ano de existência em 2024?

Naberius: Temos alguns projetos engatilhados, acredito que a maioria estarão disponíveis ainda esse ano, o mais concreto é o relançamento de nossas demos num Box Tape limitado que será lançado pela Angel of Cemetery Rec., essas mesmas demos serão lançadas em CD por uma aliança de alguns selos que ainda não posso revelar porque estamos em finalização de acordo. Estamos gravando neste momento dois materiais novos, um EP que trará duas músicas inéditas, uma música da nossa Demo de 2002 e dois covers tributo, deste EP lançaremos um single entre fevereiro e março deste ano; e o sexto álbum contendo sete faixa inéditas de um som completamente diferente e estranho, mas nunca um som vazio, sempre opulento e cativante, vocês não estão preparados para o que está por vir!

Muito obrigado por esta conversa, deixe uma mensagem para nossos leitores e para os sempre fiéis seguidores do ETERNAL SACRIFICE!

Naberius: Agradecemos o espaço cedido, vida longa a vossa empreitada e que tenham êxito em seus projetos. Que as hostes infernais persigam incessantemente aquele que se dispuser a conhecer os dizeres oculto sem pertencer de corpo e alma a Satã ou sem ter feito pacto com a Suprema Inteligência Universal.

Ahar Ethan!

ETERNAL SACRIFICE É:
Magister Templi Lhorde Haadaas Anton Naberius: Cultibus Magicis
Charles Lucxor Persponne: Intentione Sortibus Utatur
Sado Baron Szandor Kastiphas: Sacra Profanis
Frater Nigrvm Ayangá Ilasha: Lampas Ardens

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