Por: Guilherme Santos e Leonardo Cantarelli
A década de 80 para o heavy metal foi marcada pelo surgimento do thrash metal. Bandas da Bay-Area dos Estados Unidos influenciam até hoje as novas gerações de headbangers. Fora dos Estados Unidos, o Thrash Alemão se consolidou também como uma referência.
É sempre difícil apontar o pioneiro , o melhor grupo , o melhor álbum e por aí vai. Entretanto, a possível banda mais conhecida no thrash seja o Metallica.
O quarteto californiano lançou 4 grandes álbuns e todos tendo aquela pegada thrash (vocais rasgados e riffs agressivos de guitarra). Kill ‘Em All (1983), Ride the Lightining (1984), Master Of Puppets (1986) e …And Justice For All (1988) são obrigatórios para qualquer pessoa que quer conhecer a essência do thrash metal.
Entretanto, em 1991, o Metallica lançou o polêmico Black Álbum. Um divisor de águas na carreira da banda. É um disco com canções mais comerciais, com destaque para a balada Nothing Else Matters. Músicas com mais melodias, mais solos e poucos riffs que remetam ao thrash.
Gostando ou não, o Metallica nunca mais voltou a ser o ‘thrasher oitentista’.
É curioso notar que no mesmo período, outras bandas do mesmo estilo se aventuraram em gravações mais comerciais.
Visando enunciar essa coincidência, o Portal do Inferno, traz outros exemplos que mudaram sua forma de fazer música. Alguns voltaram ao estilo que fizeram fama, outros seguiram em rumos diferentes.
Confira:
Testament – The Ritual (1992)
Por: Guilherme Santos
No começo dos anos 90, o Testament já estava consolidado como um dos principais nomes do Thrash Metal mundial. A banda fez história na segunda metade dos anos 80 com os grandiosos The Legacy (1987), The New Order (1988), Practice What You Preach (1989) e iniciou a década seguinte com o maravilhoso Souls of Black (1990) que foi um grande sucesso de público e crítica. Se formos analisar, a década de 90 para as bandas de Thrash começa a partir de 1992, pois os discos registrados até 1991 trazem muito da timbragem e fórmula dos anos 80.
Lançado em Julho de 1992, The Ritual traz um Testament muito mais groovado e pesado do que rápido e direto ao ponto. Isso não é um ponto negativo, pois a banda chegou totalmente renovada com esse disco. A abertura com Sign of Chaos/Electric Crown já traz um forte exemplo dessa sonoridade, além de ser uma música extremamente comercial, com aquele típico refrão clássico que cativa qualquer fã de rock. So Many Lies, Let Go Of My World e As The Seasons Grey são músicas onde a versatilidade do vocalista Chuck Billy ficam extremamente evidentes e as guitarras de Eric Peterson e Alex Skolnick estão afinadas em um tom abaixo o que já difere bastante o The Ritual dos álbuns anteriores. Louie Clemente toca a bateria de forma visceral, porém, não traz nenhuma batida d-beat, que é extremamente comum no estilo que consagrou o som da banda. O disco traz a balada Return To Serenity que é uma música extremamente bem feita e entra no pódio das grandes baladas do metal.
Podemos perceber que o The Ritual não é um disco feito para o leigo fã de metal extremo, ele vai, além disso, é um disco que procurou agradar os fãs de rock no geral, pois a cena era muito prolifera na época. Tínhamos o Guns n Roses estourando, a cena Grunge, o Metallica vendendo milhões e o Pantera trazendo uma nova cara para o som pesado. É nesse contexto que o Testament se reinventa e reformula a sua sonoridade para os anos seguintes.
Suicidal Tendencies – Art of Rebellion (1992)
Por: Guilherme Santos
De longe, o Suicidal Tendencies foi a banda mais sucedida no estilo crossover na segunda metade dos anos 80.
A popularidade da banda rendeu um ótimo contrato com a Epic Records e houve um grande investimento da gravadora em cima dos californianos.
O grupo iniciaria a década de 90, com o petardo Lights, Camera… Revolution com muito peso e técnica dentro da mistura de metal com hardcore. Porém, como a sonoridade da maioria da cena Thrash estava se modificando a partir de 91, com o Suicidal não seria diferente. Gravado entre novembro de 91 e fevereiro de 92, The Art Of Rebellion é o disco mais comercial do Suicidal desde então.
A banda colocou de vez o pé no acelerador e trouxe mais destaque para as partes melódicas e mesmo que mantenha algumas características clássicas da banda, o disco é totalmente diferente do que foi feito até aquele momento. Essa diferença é perceptível em faixas como Can’t Stop, Nobody Hears, Monopoly on Sorrow e I Hate You Better, que são músicas mais palatáveis para qualquer fã de música em geral e como a maioria dos discos dessa época, causou muita estranheza nos antigos fãs e trouxe novos fãs por causa dos clipes de Nobody Hears e Asleep The Wheel que eram incansavelmente rodados na MTV, principalmente no programa Headbangers Ball.
A formação conta com Mike Muir (Vocals), Mike Clark (Guitars), Rocky George (Lead Guitar) e Robert Trujillo (Bass). A bateria foi gravada por Josh Freezer, músico contratado apenas para esse CD. Não se sabe se a fórmula das bandas se esgotaram, ou se elas queriam inovar com novas sonoridades, mas uma coisa é fato: essa mudança foi crucial para dar fôlego e renovação aos veteranos dos anos 80.
Kreator – Do Renewal ao Endorama (1992-1998)
Por: Leonardo Cantarelli
Um dos símbolos do Thrash Metal alemão e até Mundial, o Kreator se tornou uma lenda ao lançar 4 ótimos álbuns nos anos 80: Endless Pain (1985), Pleasure to Kill (86), Terrible Certainly (87) e Extremme Agression (89).
O quarteto oriundo de Essen ficou marcado através de suas letras que protestavam sobre as injustiças no mundo, pelo vocal rasgado e agressivo de Mille Petrozza, as baterias velozes de Jurgen Reill (Ventor), além dos riffs de guitarras e os solos de baixos.
Após o lançamento do Coma of Souls (1990), a banda germânica começou a fazer sons mais experimentais e gravou Renewal (1992), onde fez um som mais industrial e com pitadas de new metal, passando pelo Cause for Conflict (1995) e Outcast (1997), até chegar ao polêmico Endorama (1999). Neste último citado,o som remete mais ao doom e ao metal gótico. Inclusive, a faixa-título, tem participação de Tilo Wolf, vocalista da banda Lacrimosa (que em nada lembra o Thrash). Algumas músicas, como Chosen Few, remetem bem ao pop, mostrando um som muito comercial.
Raramente, o Kreator toca ao vivo uma música do Endorama. É tido como uma mancha na discografia dos thrashers.
Visando voltar às origens, Petrozza, Ventor & Cia, lançaram o Violent Revolution. Um álbum com raízes thrash e que resgatou a confiança e credibilidade dos fãs. Desde então, o Kreator vem se mantendo na mesma linha e sendo uma das referências thrashs para as várias gerações de headbangers.
Tankard – Disco Destroyer (1998)
Por: Leonardo Cantarelli
O Tankard, dentre os quatro principais grupos alemães de thrash, é o que mais mostra as influências punks. Isso é nítido nos primeiros álbuns lançados : Zombie Attack (1986), Chemical Invasion (87) e The Morning After (88).
O quarteto oriundo de Frankfurt foi mais um que se aventurou na década seguinte a inovar no som. Em 1995, o grupo lança o álbum que leva o mesmo nome da banda e já se nota um vocal mais limpo e com o instrumental arriscando em mais melodias e menos em ritmos que remetiam ao thrash oitentista. Há algumas pitadas mais ligadas ao metal melódico e até hard rock.
Em 1998, o ´Canecão de Cerveja`, grava o disco Destroyer. O primeiro em que não há referência na capa à cerveja. Embora, esteja longe de ser um disco ruim, este é o que menos agrada aos fãs, pois foi aonde a banda mais misturou ritmo nas canções, indo bem fundo ao hard rock, inclusive.
O curioso é que 2 anos depois, veio o King of Beer e para muitos o melhor álbum da banda. Aqui é como se fosse uma terceira era do Tankard: uma volta ao Thrash, mas com um vocal menos rasgado, dando assim uma identidade ao grupo!
Annihilator – Remains (1997)
Por: Leonardo Cantarelli
O Annihilator é uma banda que troca de integrante a todo o momento. Apenas Jeff Waters, gravou todos os álbuns. Water já gravou os vocais, guitarras e baixo nessas 4 décadas de banda.
Mesmo sem uma identidade forte com os integrantes e sempre anunciando términos e retornos, o grupo canadense é querido por muitos fãs do thrash metal. Álbuns como Alice in Hell, Never Neverland e Set the World on Fire estão como históricos do Thrash.
Entretanto, houve no disco Remains (1997) uma grande mudança. E para pior. Um som que nada lembrava o thrash do Annihilator. São músicas que remetem a um new metal da pior qualidade e apenas com um riff tosco de guitarra.Um vocal dark e uma bateria programada, ambos sem empolgação. Uma mudança que deu muito errado.
Em tempo: lembrou-se de alguma banda que passou pela mesma experiência, mas não foi mencionada na matéria? Coloque nos comentários. Irá enriquecer o conteúdo!