Sempre que um novo festival surge, fica sem a expectativa (e a dúvida) de como será a organização, quais bandas irão se apresentar, se ele será bem-sucedido em relação à venda de ingressos, etc. Foi assim com o São Paulo Metal Fest, organizado pela IDL Entertainment, e que ocorreu em 14 de abril (sexta-feira) no Carioca Club, em São Paulo. 

A dúvida sobre o cast foi sanada em poucas semanas, com a divulgação inicialmente do Moonspell, e em seguida dos canadenses do Beyond Creation, e a estadunidense Cynic. Completaram a escalação da 1° edição os chilenos do Weight of Emptiness e as brasileiras Hatefulmurder e New Democracy

Seis bandas, em uma sexta-feira. Ficou, a partir do cast completo, a dúvidas sobre os horários. Começaria muito cedo ou terminaria tarde? A segunda opção foi a escolhida, sendo que a apresentação do Moonspell, atração principal, tinha seu início previsto para a meia-noite. O que acabou não ocorrendo (falarei disso mais adiante) … 

New Democracy. Foto: Leandro Pena.

Vinda de Varginha, terra do Tuatha de Danann, a primeira banda a subir no palco –pontualmente às 18h30, como programado – foi a New Democracy. Com influências do death metal e divulgando o mais recente álbum, “The Plague”, os mineiros tocaram por cerca de trinta minutos para o público que chegou mais cedo – que, por sua vez, puderam ver um show bem correto.  

Hatefulmurder. Foto: Leandro Pena.

Em seguida, foi a vez dos cariocas do Hatefulmuder que, apesar de breve (também durou trinta minutos), fizeram um intenso show, com destaque para a vocalista Angélica Burns que, com seus vocais rasgados, não parou de agitar e incitar a plateia. A banda tem mais de dez anos de estrada e está divulgando atualmente “Reborn”, álbum de 2019.  

Weight of Emptiness. Foto: Leandro Pena.

Na sequência, fomos apresentados aos chilenos do Weight of Emptiness. Seu death melódico com pitadas de doom foi bem recebido pelo público, e não posso deixar de citar o performático frontman Alejandro Ruiz. Músicas como “Wolves”, do recém-lançado “Withered Paradogma”, terceiro álbum da banda, tiveram destaque.  

Beyond Creation, Brasil. Foto: Leandro Pena.

Para aqueles que amam um death metal mais técnico, o festival começou na verdade neste momento. Com a casa mais lotada (não atingiu sua lotação total nesta noite), o Beyond Creation foi muito celebrado ao subir ao palco do Carioca Club.   

Com temas falando de política, sociedade, guerra, ficção científica, agradou em cheio os fãs e aqueles que não conheciam a banda. Simon Girard (guitarra, voz) Kévin Chartré (guitarra), Philippe Boucher (bateria) e Hugo Doyon-Karout (baixo) tocaram canções de seus três álbuns lançados, incluindo as celebradas “Earthborn Evolution” e “Omnipresent Perception” (esta encerrando a apresentação) e “Algorythm”, do mais recente álbum, de mesmo nome.  

Set-list – Beyond Creation
Fundamental Process
Earthborn Evolution
In Adversity
Ethereal Kingdom
Algorythm
Coexistence
Omnipresent Perception

Cynic. Foto: Leandro Pena.

Já se passava das dez quando Paul Masvidal e cia. subiram ao palco com o Cynic. Esta foi, de fato, uma das bandas mais esperadas da noite. Nas primeiras músicas o microfone de Paul, que possuia um efeito vocoder, estava um pouco baixo, mas que no decorrer da apresentação foi corrigido. Já os guturais de Max Phelps estavam audíveis.  

O primeiro lançamento da banda, “Focus” foi executado inteiramente nesta noite. O álbum, de 1993, tem uma sonoridade que remete em alguns momentos ao álbum “Human” do Death, de 1991 (no qual Paul, juntamente com o baterista e co-fundador da banda, Sean Reinert, morto em 2020, participaram da gravação). Com Max, Matt Lynch (bateria), Brandon Giffin (baixo) e Ezekiel Kaplan (teclado) tocaram mais alguns temas posteriores, mas não antes de uma breve saída dos músicos do palco e uma espécie de ritual com incenso de Masvidal, culminando com uma foto no telão da casa de Reinert ao lado de Sean Malone, baixista, já falecido também. Apesar de um momento interessante, aparentemente – e talvez por conta desse momento também – a banda excedeu o seu limite de tempo, sendo “retirada” do palco pela produção, digamos. E esse fato impactou na apresentação principal…  

Set-list – Cynic
(“Focus”)
Veil of Maya
Celestial Voyage
The Eagle Nature
Sentiment
I’m But a Wave to…
Uroboric Forms
Textures
How Could I

Kindly Bent to Free Us
Adam’s Murmur
Aurora
Box Up My Bones
Evolutionary Sleeper
In a Multiverse Where Atoms Sing

Moonspell. Foto: Leandro Pena.

Por conta do tempo excedido do Cynic no palco (o show terminou 23h50), a apresentação dos portugueses do Moonspell, que já começaria tarde (0h), teve um atraso de cerca de vinte minutos para que o palco estivesse pronto. Isso não impediu que a banda não fizesse um show vibrante, como é de praxe. Com “The Greater Good”, música de abertura do mais recente lançamento da banda, “Hermitage”, e única deste álbum, Fernando Ribeiro (voz), Ricardo Amorim (guitarra), o aniversariante do “dia anterior” Aires Pereira (baixo), Pedro Paixão (teclado, guitarra) e Hugo Ribeiro (bateria) deram início à apresentação, seguida de “Extinct”, que teve seu refrão cantado em alto e bom som pelos presentes.  

Em “Finisterra”, uma das mais pesadas da carreira da banda, Pedro deixou o teclado e veio à frente do palco para tocar guitarra, para fazer jus ao peso e agressividade que a canção tem. A dobradinha “In and Above Men” e “From Lowering Skies” foi muito comemorada pelo público também.   

Como não podia deixar de ser, canções cantadas na língua pátria foram executadas. Para esta noite, “Em nome do medo” foi uma delas. Durante sua execução, cenas do filme “1984”, estrelado por John Hurt e inspirado na famosa novela de George Orwell (filme que curiosamente foi lançado no ano de 1984) foram exibidas no telão. Outra música executada foi “Todos os Santos”, do album “1755”.   

Após este tema, Fernando Ribeiro agradeceu às bandas anteriores que tocaram na noite cumpriram seus horários, mas mostrou descontentamento pelo fato de o Cynic ter excedido seu tempo, o que fez com que o set-list dos portugueses fosse reduzido. Por conta disso, infelizmente, “Mephisto” e “Vampiria” foram algumas canções limadas, e seguiram-se as tradicionais canções de encerramento, as clássicas “Alma Mater” e “Full Moon Madness”. Apesar desse detalhe, como mencionei, a apresentação da banca foi energética e valeu cada minuto.  

Set-list – Moonspell
The Greater Good
Extinct
Opium
Finisterra
In and Above Men
From Lowering Skies
Breathe (Until We Are No More)
Nocturna
Scorpion Flower
Em nome do medo
Todos os santos
Alma Mater
Full Moon Madness

Moonspell. Foto: Leandro Pena.

Sobre o festival, tirando o ocorrido com o Cynic, as apresentações ocorreram fielmente nos horários programados. Um ponto a ser observado também envolve os horários pois, atualmente, é inviável e extremante cansativo, para uma sexta-feira, um festival ter a banda principal iniciando o show pela meia-noite. Esperamos que a produtora pense nesse detalhe, mesmo que a data seja em um sábado, para as próximas edições do São Paulo Metal Festival – que esperamos que faça parte da agenda de festivais nos futuros anos. 

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