Algumas bandas, de acordo com a sua musicalidade, nos transmitem sensações diversas ao ouvir sua música: vontade de pular, dançar, cantar a plenos pulmões, chorar, ou apenas contemplar com admiração. E foi assim com o The Gathering, que se apresentou em uma noite chuvosa de quarta-feira em São Paulo, onze anos após sua segunda passagem por aqui (a primeira, ainda com Anneke van Giersbergen na voz, ocorreu em 2006), como parte da “Auto Reverse 30th Anniversary American Tour”, que finalmente acontecia com dois anos de atraso, após os adiamentos em decorrência da pandemia do Covid-19. 

Antes de partir para o show propriamente dito, é importante salientar que a casa (Manifesto Bar) cumpriu os horários previstos, abrindo por volta das 20h, e iniciando o show pontualmente às 21h30 – o que foi ótimo, visto que, ao final do espetáculo, ainda havia transporte público disponível para aqueles que utilizam esse meio, algo que, infelizmente, nem todos os organizadores se preocupam. 

Agora, voltando ao show e em relação ao que mencionei nas minhas primeiras palavras, o início foi justamente de contemplação, com duas músicas novas, “Stronger” e “In Colour”, do EP “Interference” e álbum “Beautiful Distortion”, respectivamente, lançados esse ano. Mas foi na sequência, com Leaves, e depois com Strange Machines, do album “Mandylion”, que a plateia se animou. Silje Wergeland (voz), inclusive, se impressionou com a força que os presentes cantaram os versos iniciais da primeira desta dobradinha, e posteriormente pulando e balançando suas cabeças. 

Entre esses momentos de introspecção e emoção, posso destacar, ainda do novo álbum, a belíssima “We Rise”, que apesar de recente já estava na boca dos presentes, e que certamente será um dos temas obrigatórios de futuros set-lists. 

Os membros da banda possuem uma sinergia e entrosamento incrível – a versatilidade nas bases e solos de René Rutten, as batidas certeiras de seu irmão, Hans Rutten, os tons graves e rítmicos de Hugo Prinsen Geerligs (de volta ao time após treze anos de ausência), que realmente dita o ritmo, se movimentando / dançando conforme as músicas, e a delicadeza na voz carismática Silje. Também é importante mencionar o trabalho do tecladista Remco van Zandvoort, chamado há poucas semanas da turnê começar para substituir Frank Boeijen, que não pode vir à América Latina por problemas pessoais. O som, perfeitamente equalizado, e a iluminação de palco bem equilibrada e sincronizada foram um plus para essa apresentação. 

Como a música do The Gathering é sinônimo de emoção, não faltou esse sentimento na sequência “Heroes for Ghosts”, “Saturnine” e “Sand and Mercury”, uma das surpresas dos shows atuais. 

Após uma breve pausa, a banda retornou ao palco, com o baterista Hans agradecendo aos presentes, para tocar mais três canções, encerrando com “I can see Four Miles” cerca de uma hora e cinquenta minutos de um espetáculo praticamente perfeito.  

Acredito que, depois desta quarta-feira chuvosa, o dia seguinte foi mais leve e agradável para quem esteve presente a esta apresentação. Agora, é torcer para que a banda volte brevemente para o nosso continente. 

Stronger 
In Colour 
Leaves 
Strange Machines 
We Rise 
Probably Built in the Fifties 
Pulse of Life 
Heroes for Ghosts 
On Most Surfaces (Inuït) 
Saturnine 
Sand and Mercury  

Weightless 
Great Ocean Road 
I Can See Four Miles