A grande tarefa das novas bandas de heavy metal é tentar fazer um som autoral atrelado em um sub-gênero, evidenciando suas influências, mas sem parecer uma cópia pura ou faltando originalidade.  Outro caminho é buscar todas as influências musicais, mesclá-las e fazer seu próprio som, o que não é muito simples.

Ruggero e Samuela em um show pelo Asphodelia. Imagem: Adrian Coleasa

Um grupo que optou pela segunda opção e faz um som interessante é o Asphodelia. A banda oriunda de Foggia,no sul da Itália (próximo ao calcanhar da ‘bota’) faz um metal sinfônico, com uma atmosfera ‘dark’ e pitadas de gothic e doom metal.

O Asphodelia foi fundado em 2016 pelo casal Samuela Fuiani (vocal e teclado) e Ruggero Doronzo (guitarra), já tem um álbum lançado, ‘Welcome Apocalypse’ (2018) e está preparando um segundo lançamento, ainda sem data definida.

Nesta entrevista exclusiva ao Portal do Inferno, a primeira para uma mídia brasileira, o casal falou sobre a trajetória da banda, as turnês pela Europa, a receptividade do primeiro ‘full-lenght’ e os preparativos para o próximo.

Confira:

1-Primeiramente, como surgiu o Asphodelia?

Ruggero: O Asphodelia é um projeto que se origina, através de uma antiga banda nossa que se chamava Blackdahlia. Era uma banda que tinha a mesma temática que o Asphodelia, mas o som era mais rápido e mais pesado. Chegamos a lançar um disco. Entretanto, a Samuela entendeu que deveríamos dar uma outra sonoridade ao trabalho e que tivesse mais relação com a nossa temática. Então, fundamos o Asphodelia.

Samuela: Queria fazer músicas que tivessem mais relação com a cultura mediterrânea, que é aonde vivemos e possui histórias ricas da Grécia e da Roma antiga.  Mostrar a riqueza da nossa região. Inicialmente, além de nós dois, havia um outro baixista que tocava muito bem, mas fazia um som muito comercial, que não combinava com o que procurávamos. Até que depois encontramos o Davide e se encaixou bem, ficando como um terceiro membro.

Obs 1: No momento, a banda se encontra sem um segundo guitarrista e sem baterista.

Obs 2: De acordo com o grupo, o nome Asphodelia vem de uma flor mediterrânea, geralmente branca, e que o povo da Grécia Antiga tinha como mito que era a ‘flor da morte’.

2- Como foi o primeiro contato de vocês com o heavy metal e quais as suas principais referências?

Ruggero: Eu toco guitarra desde os meus 14 anos e desde então sou apaixonado por esse ofício. Sempre estou procurando estudar e praticar mais. Melhorar minha técnica e estudar mais sobre guitarra.

As minhas primeiras influências foram as bandas de rock e heavy metal dos anos 70, como o Black Sabbath, por exemplo. Depois, eu virei muito fã do Nevermore e aprecio muito o Children of Bodom, Amorphis e Sentenced.

Samuela: Eu sou mais eclética. Minha primeira paixão foi a música clássica e o primeiro instrumento que aprendi a tocar foi o piano.  Sou apaixonada por piano. Estudei em conservatório de música. Depois de um tempo eu conheci o rock e fiquei fã de bandas como Placebo e outras de rock mais modernos. Já no heavy metal, eu fiquei fã de Lacuna Coil e Evanescense e houve um tempo que ouvia muito Death Metal. Ou seja, eu vou da música clássica ao mais pesado do metal (risos).

3-O primeiro álbum, Welcome Apocalypse, saiu em 2018. O que ele representa para vocês e como foi a recepção do público e da mídia?

Samuela: É um álbum que trata do mesmo tema, embora ele não seja conceitual: a destruição que o ser humano causa no mundo. São guerras atrás de guerras e destruição da natureza em nome de um progresso, que mais se assemelha a um regresso.  Creio que estamos vivendo um apocalipse, no sentido de uma destruição em massa.

Ruggero: Tivemos uma receptividade boa da mídia. Tivemos elogios de mídias alemãs e japonesas, por exemplo. Fizemos turnês por praticamente toda a Europa e víamos o público respondendo de maneira positiva.O que mais me marcou foi quando excursionamos pela Europa com o Sirenia e o público sabia cantar as nossas músicas. Cantavam junto com nós. Ali víamos que o público também estava ali para nos assistir.

4- No primeiro álbum, há o cover da música ‘With or Without You’ do U2. Por qual motivo escolheram essa música para estar no Welcome Apocalypse?

Samuela: Eu gosto muito dessa música. Toda música que eu gosto muito, penso em personalizá-la. Fazer um tributo. Quis fazer essa homenagem, colocando o estilo do Asphodelia na canção.

5-Como está a preparação para o novo álbum?

Samuela: Estamos ainda nos ajustes finais. Por conta da pandemia do coronavírus, houve alguns imprevistos para gravá-lo. Ainda não há data para lançar e nem nome. O que podemos dizer é que serão 9 músicas e que terão a nossa cultura mediterrânea como pano de fundo.

6- Falando sobre o Coronavírus, o quão isso afetou os shows da banda no verão europeu? 

Ruggero: Muitos shows e festivais foram cancelados por conta da pandemia. Nós iríamos sair em turnê e no Reino Unido tocaríamos em um festival junto com o Napalm Death. Infelizmente,não foi possível e penso que só voltaremos a tocar em 2021.

7-Como analisam a cena italiana de heavy metal?

Ruggero: Penso que a cena italiana é muito parecida com a de os outros países europeus. É difícil encontrar espaço para bandas menores e alguns lugares preferem sempre as ‘mainstream’, pois, é mais fácil de atrair público. Na Itália, os principais festivais estão mais ao norte do país, e as vezes algumas bandas do sul não conseguem aparecer tanto, o que é uma pena, pois, há bandas muito boas aqui.

Samuela: O problema é que o heavy metal não é um gênero mainstream na Itália. Não é algo que toca nas rádios. Isso já dificulta a divulgação de bandas de heavy metal. Logo, haverá menos espaço dedicado ao metal.

8- Agora falando sobre Brasil, que bandas conhecem daqui? Pensam em um dia tocar aqui?

Samuela: Conheço o Semblant que assinou contrato com uma gravadora italiana. Também há o Angra que é famoso por aqui e o Sepultura que pratica um som bem pesado (risos).

Ruggero: O Angra agora tem o Fabio Lione (ex-Rhapsody) no vocal, para dar um tom mais italiano na banda brasileira (risos).

Samuela: Sobre tocar no Brasil, temos planos de tocar tanto na América do Norte como na América do Sul, mas nada concreto. Sabemos que o Brasil tem um público bastante agitado e acalorado nos shows, o que faz muitas bandas quererem sentir esse clima. Será belíssimo. Italianos e brasileiros são latinos, logo, temos laços em comum. Será bom se um dia pudermos tocar no Brasil.

9-Por fim, qual música vocês mais gostam da banda?

Ruggero: A que eu mais gosto é da ‘Alive’. Uma canção muito energética e que eu adoro tocar em shows. Tem um vídeo nosso tocando ela na Ucrânia, que é sensacional!

Samuela: Eu prefiro ‘Flower of Evil.’ É uma música que define o nosso caráter musical e a nossa energia. Ao longo da música, passamos sensações diversas e opostas como: tranquilidade e agressividade, por exemplo.

Confira as músicas, logo abaixo:

 

 

Escrito por

Leonardo Cantarelli

Headbanger, jornalista formado, autor de 2 livros e mesatenista!