Uma noite para ficar na memória de todos os fãs do Iron Maiden. Diferente da tour de 2011, onde a banda veio para divulgar o então lançado The Final Frontier, dessa vez, a Donzela de Ferro desembarcou em São Paulo, antes de se apresentar no Rock in Rio, para o início da etapa latino-americana da Maiden England World Tour.
A noite contou com a abertura da banda sueca Ghost, que faz um heavy metal com grande influência de Blue Öyster Cult e gera bastante polêmica por ter como frontman uma figura intitulada Papa Emeritus II e cinco músicos sem nomes e nem rostos, os Nameless Ghouls. O grupo deu início à sua apresentação com o som baixo. Quem estava fora da área da pista premium deve ter ouvido com dificuldade o show dos suecos.
Apesar de contar com o apoio de alguns fãs presentes, a banda é uma divisora de público. Ghost tem uma performance que funcionaria muito bem em uma apresentação única, em um palco com cenografia própria, mas para festival ou shows grandes, se torna cansativo. Com um setlist bastante curto, eles tocaram músicas de seus dois álbuns: Opus Eponymous (2010) e Infestissumam (2013). Apesar da simpatia do Papa – sim, ele é simpático mesmo querendo passar uma imagem maquiavélica –, o grupo não tem muita postura de palco, pois os Ghouls, com suas máscaras e capas pretas, parecem ficar engessados, limitados a somente tocar. Eu pergunto até quando esta formula vai durar?
Depois de uma pequena pausa, tempo para ouvir reclamações sobre o Ghost de alguns presentes, eis que as luzes se apagaram e chegou a hora do Slayer, banda já, digamos, veterana por estes lados. Mas esta foi a primeira vez que os americanos se apresentam por aqui após o falecimento do guitarrista Jeff Hanneman. Ao contrário do Ghost, apesar do público do Slayer ser muito diferente do Iron Maiden, os americanos ficaram com a real responsabilidade de aquecer o público. O problema do som persistiu e, mesmo assim, o Slayer fez uma apresentação em grande estilo, mandando clássicos de sua carreira, e finalizou o show com South of Heaven, Raining Blood e Angel of Death. Prestando uma homenagem àquele que fez os melhores riffs da banda, o pano de fundo foi trocado e no telão começaram a passar fotos de Jeff Hanneman. Foi a hora dos fãs antigos relembrarem como Jeff quebrava tudo no palco e uma oportunidade para mostrar para os novos como era o guitarrista em ação.
Com as pistas já cheias e os fãs aguardando a banda principal, quando começou a tocar a intro Doctor Doctor, os fãs que ainda estavam entrando no Anhembi, ou comprando algo, começaram a correr para a frente do palco. A ideia do Iron Maiden de intercalar tour de comemoração com tour de divulgação é ótima, pois assim o público que reclama que é sempre o mesmo show tem a oportunidade de ver a banda executar musicas de álbuns clássicos. Mas Iron Maiden é sempre Iron Maiden e seus fãs brasileiros são fiéis e comparecem em peso ao seus shows, independentemente da situação, motivo ou turnê.
Com o palco baseado no giro de 1988, 7th Tour of a 7th Tour, deixando de lado os últimos seis álbuns, o setlist é composto por músicas lançadas até o álbum Fear of the Dark. Algumas das músicas do repertório muitos já estão cansados de ouvir por fazerem parte do set obrigatório, como The Number of the Beast, The Trooper e Two Minutes to Midnight. Mas ouvir Afraid to Shoot Strangers, Seventh Son of a Seventh Son e The Clairvoyant, que foram os pontos altos do show dos ingleses, foi algo emocionante e único, a última com direito a segunda aparição do mascote Eddie. Mesmo a constantemente criticada (por estar mesmo em sets clássicos) Fear of The Dark foi cantada em coro por todos.
Sobre a banda, não há como não apreciar a performance dos integrantes que, cada um a seu modo, dão um show a parte, desde Janick Gers que não para um minuto às brincadeiras de Bruce com o público e da forma com que ele cativa seus fãs. O grupo continua ótimo e com um espírito cada vez mais juvenil, demonstrando prazer em tocar para seus fãs e entregando, apesar da idade, uma performance vigorosa, dando uma verdadeira lição para muitas bandas jovens da atualidade. Isso aliado a um belo cuidado com a parte visual, com diversos Eddies no palco, fogos e vídeos justifica quando muitos dos fãs dizem que o Iron Maiden é a maior banda de heavy metal do mundo e que seu show é uma experiência única a ser vista.
Apesar de tudo, a Arena Anhembi conta com alguns problemas estruturais que prejudicaram parte do espetáculo. Por ser, na verdade, um grande estacionamento, o local não é nivelado e faz com que muitos não tenham uma boa visão do palco. Alguns fãs mais afoitos chegaram a escalar os banheiros da lateral da Arena Anhembi, estourando encanamentos e atrapalhando fãs que estavam naquele área. E pelo desnível do local, poças se formaram. Por sorte, o tempo colaborou mas muitos tinham em sua memória as lembranças do show da banda em 1998 no mesmo lugar e do problema gerado pelo temporal no dia.
Diversos fãs, principalmente os que estavam na pista comum, relataram a péssima qualidade do som durante todo o evento. Instrumentos embolados, voz baixa, peças de bateria que sumiam fizeram com que, apesar da impressionante atuação da banda, o show fosse extremamente frustrante e desrespeitoso, considerando o alto valor pago. Como ponto positivo da produção foi o horário de encerramento pouco após as 23 horas, permitindo que uma massa de fãs utilizasse o metrô no retorno para casa apesar da distância até a estação mais próxima.
Setlist Ghost:
Masked Ball (Jocelyn Pook)
Infestissumam
Per Aspera ad Inferi
Con Clavi Con Dio
Prime Mover
Stand by Him
Year Zero
Ritual
Monstrance Clock
Setlist Slayer:
World Painted Blood
Disciple
War Ensemble
Mandatory Suicide
Hallowed Point
Dead Skin Mask
Hate Worldwide
Seasons in the Abyss
South of Heaven
Raining Blood
Angel of Death
Setlist Iron Maiden:
Moonchild
Can I Play with Madness
The Prisoner
Two Minutes to Midnight
Afraid to Shoot Strangers
The Trooper
The Number of the Beast
Phantom of the Opera
Run to the Hills
Wasted Years
Seventh Son of a Seventh Son
The Clairvoyant
Fear of the Dark
Iron Maiden
Bis:
Aces High
The Evil That Men Do
Running Free