Caros leitores do Portal do Inferno, testemunhei neste domingo, 25, no Credicard Hall, a magistral performance  de uma das bandas que gosto desde criança, apresentada a mim por meu pai: o Creedence Clearwater Revisited. À época chamada Creedence Clearwater Revival, a banda fez muito sucesso entre 1967 e 1972, quando foi anunciado seu fim. Hoje, com apenas dois dos integrantes da formação original – Stu Cook no baixo e Doug “Cosmo” Clifford na bateria –, mudou seu nome para o atual Creedence Clearwater Revisited, em 1995, e retornou em apresentações locais, até se restabelecerem às turnês mundiais. Atualmente, Cosmo e Stu são acompanhados por John Tristao, nos vocais e guitarra; Steve Gunner nos teclados, gaita, percussão, violão e backing vocals; e Kurt Griffey, guitarrista exímio que manteve toda a originalidade do Creedence, além de ser ótimo solista.

Desde a abertura do local para a entrada, notei que vieram pessoas e filiados de motoclubes de outras cidades, como São Caetano, Avaré, etc., e o mais legal, que acontece muito hoje em dia, é que todas as gerações de família, amigos e conhecidos comparecem e apreciam uma banda que talvez o bisavô ou as gerações mais antigas gostam, e isso se estende a até crianças de menos de dez anos de idade.

Creedence Clearwater Revisited

A noite começou pontualmente às 20h, com uma incrível banda de rock paulistana com claras influências do southern rock, blues texano e country, além do próprio Creedence: o Cracker Blues. Surpreendentemente, uma banda nacional que merece uma maior atenção em seu segmento, pois os músicos são excelentes, a performance de palco é muito boa e autêntica, e suas músicas fazem plena honra ao estilo que representam, com direito às duas belíssimas backing vocals, Larissa Di Nardo e Paula Febbe. Um pequeno tambor xamânico deu um tom todo especial, relembrando aqueles cenários desérticos do Arizona. Músicas como Bolero Maldito, Tinhoso e Velha Tatuagem fizeram o “esquenta” para preparar a plateia para o que estava por vir.

Após aproximadamente 40 minutos, o Cracker Blues deixou o palco, muito bem aplaudido pelo público de um Credicard Hall quase lotado. E entram no palco, ensurdecedoramente ovacionados por todos, os membros do CCR.

Um caloroso “boa noite” de John, que além de um timbre de voz muito próximo de John Fogerty (guitarrista e vocalista da formação original da banda), é um sujeito irreverente, fazendo caretas e divertindo o público com sua espontaneidade única, deu início ao que seria uma noite inesquecível aos fãs do Creedence, com Born on the Bayou.

Daí em diante, seguiu-se Green River, Lodi, Commotion, Who’ll Stop the Rain, Suzie Q… foi uma noite de clássicos. O repertório foi, da primeira à última música, composto por músicas famosas e conhecidas por todos. Claramente se ouvia o coral em toda a casa.

Creedence Clearwater Revisited

Ao final de I Heard Through the Grapevine, seguiu-se um bárbaro solo de guitarra de Kurt, mostrando o estilo peculiar do country blues e do rock sulista norte-americano. Fluindo logo em seguida, Stu Cook lançou o seu solo num baixo de cinco cordas, em que dançou, tirou seu sarro, deu risada, e ainda provocou o público com trechinhos de Smoke on the Water (Deep Purple) e Sunshine of Your Love (Cream). Aproveitando o ritmo contagiante, eis que foi a vez de Doug “Cosmo” Clifford com seu solo de bateria, confesso simples, mas que demonstrou e comprovou que a força e a idade do corpo físico não limitam a idade da alma, mesmo com seus 67 anos. Cosmo declarou, ao final do show: “Hoje eu tenho 67 anos. Quando estou atrás da bateria, tocando, tenho 24 anos, e quando paro de tocar e volto para casa, tenho 40 anos”.

A apresentação foi, literalmente, uma máquina do tempo; tanto os pais e avôs, que curtiram a nostalgia de sua juventude, como as crianças que nunca tinham ouvido o som do CCR, que puderam conhecer um pouco de um tempo em que só imaginavam pelas histórias contadas pelos mais velhos, ou lidas num livro de história. Este mesmo que vos escreve sentiu saudade de um tempo que não viveu, em que só se vivia plenamente, como se todos nós voltássemos a ser crianças, se divertindo num lúdico e inebriante parque sonoro.

A parte principal do repertório terminou com Bad Moon Rising, Proud Mary e Fortunate Son. Mas ainda não encerrado, o show teve dois bis. O primeiro, depois de algumas gigantescas palmas, o grupo retorna para o ápice do espetáculo: Have You Ever Seen The Rain?. Nesse momento, o público do Credicard Hall explodiu suas almas num brado potente ao cantar o refrão dessa clássica canção, seguida de Travellin’ Band. Mas ainda não havia acabado aquela brincadeira e aquele pique-nique dos idos das décadas de 60/70, em que todos estavam convidados e participando prazerosamente. E digo prazerosamente, porque a todo lugar que olhava, não havia uma pessoa parada; todos sorrindo, cantando, dançando… uma plena festa. E então, o segundo bis fechou a noite com Molina e Up Around the Bend.

Fiz justa questão de brindar àqueles músicos, que nem a idade nem conflitos internos venceram, a honra de presenciar a apresentação de sua música, e a gratidão de terem estado no Brasil, especificamente em São Paulo mais uma vez, com uma bela e geladíssima cerveja. E também pelo Cracker Blues, que mostrou que o rock nacional não acabou, nem tampouco irá acabar, pois onde se olham os bois, não se veem as aves. Basta apenas um pouco mais de atenção e ousadia de se descobrir quantas agulhas douradas existem num palheiro coberto de grandes blocos de esterco.

Muito rock e metal. Descubram o novo e sejam felizes.

Setlist Cracker Blues:

Bolero Maldito
Tinhoso
Nascido em São Paulo
Velha Tatuagem
Que o Diabo lhe Carregue

Setlist Creedence Clearwater Revisited:

Born on the Bayou
Green River
Lodi
Commotion
Who’ll Stop the Rain
Suzie Q
Hey Tonight
Long as I Can See the Light
Down on the Corner
Lookin’ Out My Back Door
I Heard It Through the Grapevine (Smokey Robinson & The Miracles cover)
Guitar Solo (Kurt Griffey)
Bass Solo (Stu Cook)
Drum Solo (Doug “Cosmo” Clifford)
Midnight Special
Bad Moon Rising
Proud Mary
Fortunate Son

Bis

Have You Ever Seen the Rain?
Travelin’ Band

Bis 2

Molina
Up Around the Bend

Escrito por

Redação

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