Chegou aquela época do ano de novo, Páscoa e a celebração definitiva do metal na Noruega: chegando à 14ª edição, o Inferno Metal Festival 2014, mais uma vez, conquistou a todos. Começando pelo primeiro dia com uma noite onde os fãs podiam ir de um clube para outro entre os sete designados: Bushwick, Revolver, Rock In, Victoria, Blå, Kulturhuset e Internasjonalen, o Inferno mostrou um prelúdio de três grandiosos headliners que tomaram o palco do Rockefeller sem nenhuma pitada de hesitação.

Os shows de encerramento de cada uma das três noites que se seguiram pertenceram aos noruegueses do Dimmu Borgir, aos americanos do Hatebreed e, para encerrar o festival em grande estilo, os suecos do Watain. O John Dee, a menor das casas de shows, localizada no térreo do Rockefeller, teve uma sequência letal de apresentações ao vivo que precisam ser lembradas: do black metal mostrando estranhamento dos alemães do Thyrgrum, a supremacia brasileira do Mystifier, e a demolidora arte dos poloneses do MGLA e os alemães do Necros Christos.

Em 2014, o festival também estreou uma experiência única, o Inferno Oslo Fjord Cruise com convidados muito especiais a bordo: os japoneses do Church of Misery, com seu doom metal. Devido a grande procura popular, essa experiência ganhou mais um dia, acontecendo na quinta-feira e sexta-feira e finalizada às 16h, a tempo dos fãs se prepararem para acompanhar a primeira banda no John Dee.

Havia muito o que aproveitar durante esses quatro dias inesquecíveis e intensos. Os fãs também puderam participar da Inferno Music Conference, do Inferno Cinema, exposições de arte, clínicas de instrumentos musicais (incluindo uma com o baterista Frost, do Satyricon e 1349) e sessões de autógrafos (de escritores como Dayal Patterson, o autor do livro Black Metal – The Evolution of the Cult). O hotel oficial do festival, o Royal Christiania, foi local de aquecimentos e after parties todos os dias. Localizado próximo à estação central de Oslo e a apenas cinco minutos de caminhada do Rockefeller, o hotel se tornou terreno fértil para o clima perfeito do festival, enriquecido pelo conhecido buffet de café da manhã, servido no verdadeiro estilo norueguês. E ainda teve mais: os incansáveis e dedicados fãs puderam aproveitar festas no Kniven, o mais novo bar de metal de Oslo, aberto todos os dias durante o festival. Desde 2001, o conceito de celebrar a Páscoa mudou para sempre: as folgas para esquiar foram substituídas por bom metal e cerveja. Essa é a festa mais extrema que a Noruega tem a oferecer.

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1º dia – quarta-feira, 16 de abril de 2014
A (muito) difícil decisão de para qual clube ir foi tomada, é impossível resistir ao apocalíptico culto à morte dos suecos do Alfahanne. Depois do vislumbre no John Dee para o show de abertura dos noruegueses do Kampfar, chegou a hora dos mais aguardados suecos da atualidade. Blå foi o local perfeito para a estreia do Alfahanne no Inferno, como parte da noite especial Norwegian Dark Essence Records & Karisma Records. Às 20:20, a noite começou com os noruegueses do Seven Impale. Essa jovem banda simplesmente tirou o fôlego de todos com seu jazz misturado com rock. O som deles é impressionante, é difícil acreditar que esses jovens músicos são tão habilidosos. Tiro o chapéu para Benjamin Mekki Widerøe, que foi bem-sucedido em encantar a plateia com solos de saxofone impressionantes. Essa é uma banda em que temos que ficar de olho. O Seven Impale terá seu álbum de estreia lançado em breve e já terá bastante procura.

Slegest (foto: Fabiola Santini)

Mais da Noruega veio com o Slegest. A mistura poderosa de rock e metal agitou o público com uma empolgação incontrolável. Os vocais do frontman Stig Ese Eliassen são dominantes ao passo que ele entoa hinos explosivos em nome de um bom tempo, com uma pitada de riffs de arrepiar a espinha. Seu álbum de estreia, Løyndom , é sem dúvida um disco que todos precisam ouvir, já que captura a essência ao vivo do Slegest.

E, finalmente, a espera pelo Alfahanne terminou: quando o baterista Niklas Åström pisou no palco espirrando fogo de uma lata, os suecos foram recebidos com muitos aplausos. Um a um, eles tomaram seus postos no palco: Pehr Skjoldhammer mostra confiança de um verdadeiro frontman desde o começo com a maravilhosa Bättre Dar, faixa que abre seu primeiro álbum, Alfapokalyps. Quando o baixista do Taake, V’gandr, se juntou à banda no palco (sendo um dos convidados especiais de Alfapokalyps, assim como seu companheiro de banda Hoest e de Niklas Kvarfoth, do Shining), a plateia ficou incontrolável. A performance da noite provou que o Alfahanne tem todas as ferramentas para conquistar mais fãs, não há dúvidas de que haverá o anúncio para uma turnê europeia em breve.

Alfahanne (foto: Fabiola Santini)

O Airbag deu sequência à noite, e também os noruegueses do Arabot ali perto, no Victoria, e os fãs tiveram que lidar com o primeiro conflito de eventos. Com o som hipnotizador do Airbag, o clima ficou mais calmo depois do terremoto provocado pelo Alfahanne. Mas a noite ainda não havia terminado e, aqueles que ainda tinham energia de sobra depois de um começo emocionante do festival foram se aventurar pela cidade para viver toda a experiência pós-show do Inferno como um prelúdio perfeito para o segundo dia.

2º dia – quinta-feira, 17 de abril de 2014
Com os fãs com as energias restabelecidas, não foi surpresa alguma ver o Rockefeller lotado para ver os noruegueses do Deathhammer, depois que os dinamarqueses do Eldjudnin deram o pontapé inicial com uma performance no John Dee. Vindo de Singapura, o Impiety fez um trabalho incrível envolvendo o seu público fiel em uma mistura poderosa de black metal e diabrura.

Impiety (foto: Fabiola Santini)

Não poderia haver um melhor começo para o segundo round do festival do que com o black metal dos alemães do Thyrgrim. Eles são do mal, com corpse-paint e armaduras e prontos para conquistar. O vocalista Kain lidera o seu esquadrão para a inegável vitória e eles foram oficialmente coroados como a melhor performance do dia no John Dee.

A expectativa para o Fleshgod Apocalypse aumentava. O clima no palco principal ganhou aquele estranhamento que costumeiramente precede a chegada dos zumbis italianos. Quando as luzes do Rockefeller se apagaram, o frontman Tommaso Riccardi tomou o palco com seu poder imortal, alimentando a sua milícia para entregar o seu melhor. Sua última obra de arte, Labyrinth, mostra sua melhor expressão ao vivo com a poderosa Minotaur (The Wrath of Poseidon) graças às magníficas linhas de guitarra e cativante arquitetura sinfônica lindamente trabalhada pelo pianista Francesco Ferrini. Ponto! Enquanto o pessoal no térreo via o Kryptos e o Syn:drom manifestando o seu fogo, a plateia se preparava para os poderosos noruegueses.

Fleshgod Apocalypse (foto: Fabiola Santini)

Havia dois anos desde que o Dimmu Borgir estava afastado dos circuitos ao vivo e, claramente, eles fizeram muita falta. Com uma detonação de fogos de artifício e luzes fantasmagóricas, Shagrath fez sua entrada triunfante no palco, enquanto os guitarristas Silenoz e Galder impressionantemente começaram o set com suas armas escaldantes, envolvendo a empogada plateia em uma massiva e incontrolável animação. A performance da noite foi principalmente dedicada a sua grande obra Death Cult Armageddon, embora a rendição a The Serpentine Offering e Puritania tenham dado ao set um poderoso toque final. A grandeza de sua performance foi ligeiramente ofuscada pela sua duração: muitos reclamaram que o Dimmu Borgir poderia ter tocado muito mais. Essa foi só uma alegria disfarçada, já que era simplesmente difícil deixá-los ir embora.

Dimmu Borgir (foto: Fabiola Santini)

Era a hora dos brasileiros mais-altos-que-o-inferno do Mystifier de reacender o bom clima com uma performance incrível cheia de fogo e adrenalina. A melhor forma de se despedir dessa noite e, até o começo do terceiro dia, ainda havia muito para acontecer, aproveitando a noite no tradicional clima do Inferno.

3º dia – sexta-feira, 18 de abril de 2014
Depois de uma apresentação bastante monótona do Banisher, chegava a hora de finalmente vivenciar uma grande potência chamada Vemod, que deu início aos trabalhos do palco principal. O trio norueguês se diferencia pela magnitude de seu som: o black metal em sua pura essência, onde riffs de arrepiar e vocais esplendorosamente trabalhados envolvem a plateia em um estado profundo de reverência. Com luzes azuis escuras e brancas intercalando-se, o set da banda é simplesmente esmagador e foi o prelúdio perfeito para os americanos do A Storm of Light onde as coisas, assim como as luzes, que se tornam mais intensas, mudam e ganham outra dimensão. O vocalista Josh Graham tem uma performance impressionante, seus vocais são sólidos e bem posicionados com as muitas camadas de metal e groove.

Das profundezas do John Dee, encapuzados e enigmáticos, From the Bogs of Aughiska fez um grande show quando, finalmente, chegou a hora dos poloneses do MGLA destruírem todas as barreiras do som. Essas criaturas assustadoras têm tudo, eles definitivamente têm uma forte presença de palco e estão se estabelecendo como uma força maior. O público se envolveu com o seu demolidor, alto e rápido black metal, que incluiu a participação especial de Mannevond, do Koldbrann, que foi visto aproveitando o show na primeira fila.

From The Bogs of Aughiska (foto: Fabiola Santini)

As temperaturas continuaram subindo quando os noruegueses do Tristania tocaram antes das estrelas norte-americanas do Hatebreed. Muitos pareciam surpresos no início, ficando levemente preocupados com a presença de uma banda que não é de black metal entre os convidados do Inferno. No entanto, Jamey Jasta e companhia fizeram um grande show em seu estilo, o que fez os fãs mais hard-core dançarem por aí.

Hatebreed (foto: Fabiola Santini)

Depois, foi hora de voltar ao John Dee para dar as boas-vindas aos alemães do Necros Christos: esse esquadrão poderoso esbraveja as coisas desde a primeira nota de seu death metal, com uma performance vocal única. Eles fizeram, definitivamente, um dos melhores shows do dia e deixaram a sua plateia satisfeita com seu repertório perfeito em sua intensidade.

Os canadenses do Blasphemy tiveram a honra de encerrar o dia no palco principal e parece que eles voltaram com tudo. Mas, se a primeira reação na sua chegada era positiva, enquanto o seu set se desenrolou pareceu um tanto quanto repetitivo com uma sucessão de riffs após riffs que, após um tempo, não impressionavam tanto. Sua imponente presença de palco é definitivamente interessante, mas só até certo ponto.

4º dia – sábado, 19 de abril de 2014
Depois de um começo de dia magnífico, onde alguns jornalistas e fotógrafos selecionados foram convidados para o show do Vemod no Emanuel Vigeland Mausoleum, no que poderia ser descrito como uma experiência única encharcada de escuridão e beleza, infelizmente o último dia teve início.

Os japoneses extremistas do Sigh foram seguidos por aqueles que foram escolhidos como um dos melhores shows de todo o evento: os noruegueses do Gehenna. De volta com a vingança graças ao seu mais recente álbum Unravel, os noruegueses mostraram forma perfeita, uma máquina de black metal bem lubrificada entregando uma única e lindamente trabalhada mistura de vocais incrivelmente fortes e som cativante. O Gehenna começou seu grande set com a deslumbrante The Decision, também a faixa que abre o último disco: é supremacia pura.

Gehenna (foto: Fabiola Santini)

Lá no John Dee, o The Sickening preparou o terreno para mais black metal norueguês do Midnattsvrede, que provou mais uma vez a sua verdadeira força na cena ao vivo. A corpse-paint deles era uma das mais legais por ali, o frontman Kaahrl parecia um orgulhoso guerreiro emergindo das profundezas do submundo.

Eles ofuscaram os suíços do Kruger, já que eles foram percebidos mais por suas escapadas fora do palco do que pela sua performance, de fato. De baixo, para cima: os finlandeses do Tulus foram evocativos e explosivos em uma sequência letal de riffs épicos e solos grandiosos.

O fim do dia estava se aproximando e os gregos do Rotting Christ não poderiam ter feito um trabalho melhor em elevar a temperatura para dar as boas-vindas aos esperados headliners do dia. O guitarrista Sakis Tolis se posiciona como o orgulhoso frontman de uma das melhores bandas ao vivo da atualidade, e eles simplesmente levam a plateia ardente para seu mundo oculto e apaixonante. In Yumen Xibalba é o exemplo perfeito de que os gregos ainda mandam bem, e sempre mandarão.

Rotting Christ (foto: Fabiola Santini)

A banda finlandesa Oranzi Pazuzu foi, como esperado, simplesmente demais. Seu magnetismo é fascinante pois envolve o que pode ser descrito como um black metal psicodélico de outro planeta. Mais uma vez, Jun-His e companhia se posicionaram bem acima da média. Os selvagens do Black Witchery foram o prelúdio perfeito para os suecos do Watain.

Watain (foto: Fabiola Santini)

Enquanto a plateia se preparava para dar as boas-vindas para o último headliner do festival, o frontman Eric Danielsson fez uma grande entrada em direção ao altar, posicionado no meio de seu surpreendente palco e, uma vez lá na frente, curvando-se para o seu mestre, Danielsson se transformou em uma entidade. De Profundis, do quinto álbum do Watain, The Wild Hunt, é um hino para a escuridão: a rendição da noite tem uma qualidade mais obscura, que torna em uma realização solene da unidade da banda com seus fãs leais. Juntamente com fogo e maldade, seu set se desenrolou por faixas únicas como as imperdíveis Malfeitor e Outlaw. Já que Danielsson começou o show reverenciando o seu mestre, a plateia encerrou o ritual reverenciando o seu herói. O Watain deixou sua plateia, mais uma vez, querendo mais: eles provaram ser uma das melhores bandas ao vivo no planeta, e além.