Sexta-feira é um dos dias mais aguardados pelo brasileiro pelo prenúncio do final de semana chegando – e é também dia de ouvir heavy metal de qualidade. A produtora EV7 compilou três bandas de estilos diferentes dentro da cena metal e nos presenteou com uma noite recheada de boa música. Duas das atrações eram bandas iniciantes e o crème de la crème, uma banda veterana. Abrindo a noite tivemos os ingleses do The Devil, seguidos dos suíços do Cellar Darling e, fechando a noite, os suecos do Therion.

O show iria ser realizado dia 13 de maio, um domingo, porém encavalaria com o show do Ozzy Osbourne na cidade. Então a produção optou por realizar em outra data mas manteve a mesma casa de show, o Carioca Club, que comportou com conforto as 500 pessoas que encheram suas dependências.

The Devil

Com um clima soturno e hipnótico, os ingleses do The Devil entraram mascarados e deixaram a plateia sem entender o que iriam ouvir pelos próximos 40 minutos de show. Sem falar com o público durante o show inteiro, a banda apresentou músicas do seu único disco, “The Devil”, de 2012. As músicas transitam entre o gothic metal instrumental com algumas passagens mais atmosféricas contemplativas.

A banda utiliza quase nada de partes vocais, e quando usa, são uns samples em playback de falas, como se fossem frequências de rádios passando de uma estação para outra. Eles se apoiam no visual e, para complementar essa estética, utilizaram o telão da casa para projetar imagens aleatórias que eram sincronizadas com a batida da música.

The Devil. 11 de maio de 2018. São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena.
Cellar Darling

Intitulados the new wave of folk rock, os suíços se apresentaram pela primeira vez na capital paulista. Apesar da estreia, não foi a primeira vez que os músicos da banda tocaram aqui. Anna Murphy e sua trupe eram da banda Eluveitie, referência do Folk Metal mundial, que possui muitos fãs por aqui.

Promovendo seu único disco, “This is the Sound”, de 2017, a banda tocou nove das 14 músicas que compõe o álbum de estreia.

A simpática vocalista conquistou rapidamente a plateia com sua voz transitando entre os timbres da cantora Amy Lee do Evanescence e a holandesa Anneke Van Giersbergen servindo de fio condutor para o metal moderno feito pela banda. Sem medo de querer ser pop, o Cellar Darling mistura instrumentos celtas com barulhos eletrônicos e refrãos grudentos feitos para tocar na rádio.

A banda soa coesa com apenas poucos músicos na formação, os também ex-Eluveitie Ivo Henzi na guitarra e Merlin Sutter na bateria. Apesar de todo o esforço a banda peca pelo som genérico e datado. Nem os esforços de Anna Murphy em tocar hurdy-gurdy, um instrumento todo peculiar, fez o show crescer.

Cellar Darling. 11 de maio de 2018. São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena.

Setlist
1. Black Moon
2. Hullaballoo
3. The Hermit
4. Avalanche
5. Six Days
6. Starcrusher
7. Redemption
8. Fire, Wind & Earth
9. Challenge

Therion

A banda oriunda da Suécia tem uma relação de amor com o público brasileiro. Tivemos a oportunidade de contar com inúmeras apresentações deles, principalmente em São Paulo, e dessa vez não foi diferente. Carregando nas costas um novo disco “Beloved Antichrist”. A ópera-rock baseada no livro “Story of Antichrist” do filósofo russo Vladimir Solovyov que em sua versão de estúdio tem quarenta e seis faixas em mais de três horas de duração. Fiquem tranquilos, o show não foi um resumo do disco, mas uma coletânea de toda uma carreira que já tem mais de trinta anos de história.

Capitaneados pelo guitarrista Christofer Johnsson, o Therion parece mais uma trupe teatral do que uma banda de heavy metal comum. Logo de princípio, percebemos o diferencial da banda que além dos instrumentistas, conta com uma linha de frente de três vocalistas: duas mulheres e um homem.

Therion. 11 de maio de 2018. São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena.

O show começou com um pequeno problema nas cortinas da casa que emperraram. Após alguns minutos, o playback voltou a tocar e músico por músico foi entrando no palco tocando um tema instrumental até que o vocalista Thomas Vikström entra em cena, seguido pelas vocalistas Chiara Malvestiti e a Linnéa Vikström cantando a faixa que fecha o disco novo, “Theme of the Antichrist”. A preocupação da banda em representar sua sonoridade épica se reflete nas vestimentas. O figurino de todos os músicos é customizado, meio como se fossem personagens de um filme retro-futurista dos anos 1980, fator esse que adiciona um clima diferente a apresentação.

Privilegiando seus discos de 2000 para cá, tocaram “The Blood of Kingu” do disco “Sirius B” e Din do “Sitra Ahra” com um final death metal apocalíptico que deixou todos os presentes de queixo caído. Pausa para tomar um ar e o vocalista Thomas Vikström pede para a plateia se imaginar dentro de uma igreja onde o Anticristo encontra com duas mulheres que significam muito para ele no futuro, para então tocarem a doom metal “Bring Her Home”, seguida da “Night Reborn”. Alguns fãs das antigas torcem o nariz para as músicas novas, dizendo que a banda mudou tanto de formação e de sonoridade que nem é mais o mesmo Therion de antes. O público presente parece não se importar com isso e recebe as faixas “Temple of New Jerusalem” e “My Voyage Carries On” com empolgação. Ao todo tocaram cinco músicas do recente lançamento.

Hora de contemplar algumas músicas referentes aos álbuns lançados nos anos 2000 começando pelo “Lemuria” de 2004. Além da faixa homônima foram tocadas “An Arrow From The New Sun” e “Typhon”. Lançado no mesmo ano, “Sirius B” é um álbum mais obscuro, e dele veio “The Khlysti Evangelist”, com um solo matador do guitarrista argentino Christian Vidal que está na banda desde 2010, sendo motivo de orgulho para os Hermanos do país vizinho ao nosso. Completando este período ainda tivemos do “Deggial” a música “The Invincible”, do “Secret of the Runes” as faixas “Ginnungagap” e “Nifelheim” e, por fim, do “Gothic Kabbalah” tivemos “Der Mitternachslöwe” e “Son of the Staves of Time”.

Therion. 11 de maio de 2018. São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena.

Mas o ápice da noite foi guardado para o final da apresentação com as músicas dos disco “Vovin” de 1998 e o grande álbum da discografia da banda, “Theli”, de 1996, com “The Rise of Sodom and Gomorrah” e “To Mega Therion”, ambas com o público cantando em coro.

É interessante ver a evolução que o líder da banda, Christofer Johnsson, teve durante esses anos e como a sonoridade da banda evoluiu. Ele que um dia foi o vocalista principal da banda, hoje não canta e fica apenas regendo a banda fazendo guitarra-base.

Setlist
1. Theme of Antichrist
2. The Blood of Kingu
3. Din
4. Bring Her Home
5. Night Reborn
6. Nifelheim
7. Ginnungagap
8. Typhon
9. Temple of New Jerusalem
10. An Arrow from the Sun
11. Wine of Aluqah
12. Lemuria
13. Cults of the Shadow
14. The Khlysti Evangelist
15. My Voyage Carries On
16. The Invincible
17. Der Mitternachtslöwe
18. Son of the Staves of Time
Bis
19. The Rise of Sodom and Gomorrah
20. To Mega Therion

Confira a galeria de fotos desse show

Therion. 11 de maio de 2018. São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena.