Bergen, cidade localizada no meio da tranquilidade e da beleza estonteante dos fjordes noruegueses, é conhecida no mundo como o epicentro da verdadeira e única tradição do black metal. Aqui foi onde tudo começou, e continua. Em sua primeira edição como um dos mais esperados festivais de metal extremo de 2014, o Blastfest reuniu um poderoso e extremo time de black, death e thrash metal para plateias vindas de todas as partes do mundo, longe como Brasil e Austrália. E não é uma surpresa: a escalação do Blastfest 2014 foi imperdível graças a bandas que fizeram história (Aura Noir, Triptykon e Marduk) e o sangue novo (Woland, Morbid Vomit). O Blastfest aconteceu durante três dias seguidos, com muitas casas de shows para ir e vir: o histórico Garage, o USF (dividido entre o palco principal, o RØckerit, no nível do térreo e o mais aconchegante Studio, no andar de cima) e bem próximo dali, o Apollon, o Hulen e o Sardinen. E, assim, tudo começou…

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1º dia: 20/02/2014
Foi um dia de uma maratona completa no Garage, começando com os noruegueses do Tantara, que abriram as cortinas do Blastfest 2014 com seu autêntico thrash escandinavo. Vindo da Finlândia, o Woland conquistou o coração e a alma de todos com seu poderoso black metal luciferiano. O vocalista W mostra confiança e poder ao apresentar as esmagadoras faixas do álbum de estreia da banda, Hyperion. Não há nada mais para dizer além de: muito bem! O Woland, definitivamente, fez um grande aquecimento para o festival, que seguiu com os noruegueses do Lakei.

Woland (foto: Fabiola Santini)

O thrash metal dos veteranos do Fatal Embrace deram um novo rumo ao dia. O setlist encheu o público de adrenalina. As coisas mudaram drasticamente com o Der Weg einer Freihein: englobando classe e um prestígio cativante, misturados com uma dinâmica de arrepiar a espinha e batidas letais. Da Alemanha, era hora de voltar para o melhor da Noruega: Koldbrann é a pura energia do bom black metal. Apesar de não terem contado com seu baterista original, Folkedal, os noruegueses encontraram um companheiro de longa data, Renton of Death (Trollfest, ex-Urgehal, ex-Sarkom) como o substituto perfeito: a introdução Vertigo despertou a plateia com uma empolgação contagiante e incessante. A presença de palco do vocalista Mannevond é simplesmente maravilhosa. O Myrkskog é detonação pura graças ao líder e guitarrista Destructhor (Morbid Angel, Zyklon, 1349), bastante conhecido pelos seus riffs letais.Ter o Aura Noir no line-up de festivais é sempre uma grande notícia e, como de costume, eles não desapontaram nessa noite. Talvez o público não parecesse tão envolvido em razão da empolgação incontrolável do que estava por vir.

Shining (foto: Fabiola Santini)

O Shining, da Suécia, não poderia ter sido uma melhor escolha para fechar o primeiro dia do Blastfest. O show trouxe um clima misterioso para a noite: à uma da manhã, o vocalista Niklas Kvarforth entrou no palco com um olhar maligno e passos demoníacos. Imediatamente, ele tomou o controle do palco e da plateia com seu ódio flamejante. Faixas como Submit to Self-Destruction e a maravilhosa For the God Bellow foram tocadas intensamente com singularidade e ferocidade, graças também aos riffs descomunais do guitarrista Peter Huss. E, sim, também houve sangue, seguindo a tradição do Shining. As habituais cus´pidas de sangue e surtos ao microfone de Kvarforth, inclusive sobre um dos fotógrafos no pequeno pit (que era basicamente uma extensão pequena do palco), não provocaram raiva, mas sim, intensificou o poderoso show, que se tornou perigosamente intoxicante. Foi pura escuridão infernal, e perfeição.

2º dia: 21/02/2014
O segundo dia começou no Garage com a atmosfera metal e poderosa, lindamente entregue pelos noruegueses do Dominanz. Com muitos solos e batidas arrasadoras, o set passou por uma série de faixas enlouquecedoras na profundidade de luzes intensas e fumaças assustadoras. Enquanto os fãs se direcionavam para a maior casa de shows, o USF, perfeitamente localizada na beira dos fjordes, muitos diziam que a escalação do dia não poderia começar de melhor forma com os noruegueses do Taake. Enquanto um misterioso Hoest entrava no palco com sua capa, parecendo um feiticeiro vindo do submundo, o set começou com Nattestid Ser Porten Vid. No momento em que Hordalands Doedskvad atingiu a plateia hipnotizada, ficou claro que o Taake a dominou completamente. A clássica Nordbundet foi um dos destaques da noite: Taake é a excelência do verdadeiro black metal norueguês, com forma e envolvimento.

Taake (foto: Fabiola Santini)

Enquanto os conterrâneos do Sahg tocavam no andar de cima da casa, o palco principal era ajeitado para os suecos do Tiamat. O ambiente e o aspecto etéreo da sua música são cativantes e tem um groove encantador. O melhor do thrash veio em seguida com os alemães do Exhumer, mas a empolgação dos fãs para a próxima atração era muito grande. O Marduk entrou no palco principal e, como sempre, foi majestoso. Seu mais recente álbum, Serpent Sermon, ficou incrível ao vivo com uma dramática e soberba performance em Temple of Decay, com os vocais de Daniel “Mortuus” Rostén ressonando violentamente forte. O guitarrista Morgan “Evil” Steinmeyer Håkansson engole a energia sobrenatural em todo o set do Marduk com seus riffs matadores e solos característicos.

Ragnarok (foto: Fabiola Santini)

Os noruegueses do Ragnarok deram sequência ao festival no segundo andar com a pura vingança de seu black metal old school. Eles são rápidos e furiosos e parece que destruíram tudo. Os suíços do Triptykon vieram em seguida e dominaram o palco principal graças à presença de palco única do lendário vocalista Tom G. Warrior. O set passou por faixas memoráveis, como a cover de Celtic Frost, Circle of the Tyrants, e Altar of Deceit. Já os finlandeses do Swallow the Sun envolveram a plateia com seu som encantador.

Hypocrisy (foto: Fabiola Santini)

Headliner da noite no palco principal, o Hypocrisy foi a banda mais agradável do dia, graças à presença de palco maior que o inferno e performance perfeita do frontman Peter Tägtgren. End of Disclosure, a matadora faixa-título do mais recente álbum da banda, foi tocada com a intenção de detonar. E eles conseguiram: o Hypocrisy não poderia ter feito um trabalho melhor. Os britânicos do Anaal Nathrak destruíram o andar de cima com seu tradicional metal extremo de esmagar os ossos. O vocalista Dave Hunt não teve receio de convidar os fãs para subirem no palco: pouco tempo após começarem o show, o conceito da barreira entre o palco e a plateia foi esquecido, qualquer limite foi ultrapassado pelos rebeldes explosivos. Foi épico, brutal e divertido. Enquanto o Taake fez uma grande abertura para o dia, o Anaal Nathrak, igualmente, fechou a noite muito bem. O relógio marcava 1:55 da manhã e ainda haviam muitos frequentadores na casa.

3º dia: 22/02/2014
Infelizmente, o final chegou muito rápido no Garage com a nova sensação finlandesa do death metal, Morbid Vomit. Depois, muitos foram para o USF para não perder a abertura da casa, com o imperdível Wardruna. Graças aos vocais intensos de Gaahl, emergindo das profundezas do submundo, e à riqueza dos sons mais profundos e diversos, o Wardruna deu ao último dia do Blastfest um final inesquecível. O setlist ao vivo foi muito curto, mas poderia ter durado horas.

Wardruna (foto: Fabiola Santini)

No Studio, os noruegueses do Communic fizeram um show monótono e passaram praticamente despercebidos, talvez em razão da dificuldade de tocar antes de uma das mais aguardadas bandas do dia. A temperatura subiu quando o palco principal foi tomado pelo black metal do Carpathian Forest. O show foi imponente desde o início: quando o frontman Natterfrost surgiu carregando a sua cruz invertida, como um devoto de Satanás, a plateia explodiu em alegria. Isso foi, sem dúvida, um combustível puro para o esquadrão norueguês, que tocou faixas como Mask of the Slave e sua obra de arte, Carpathian Forest, que foram lançadas para seus enfeitiçados e vorazes fãs com força e mal puros. Luzes e muita fumaça criaram um clima dramático do qual Nattefrost surgiu com sua gloriosa presença de palco a caminho do encerramento da apresentação, com a esplêndida Diabolism (The Seed and the Sower).

Carpathian Forest (foto: Fabiola Santini)

De volta ao andar superior, a tradição norueguesa continuou com o Insidious Disease, o projeto paralelo de Sven Atle Kopperud, também conhecido como Silenoz, do Dimmu Borgir.Isso é metal puro, sem corpse paint, sem spikes, tudo é deixado para os poderosos riffs e vocais bem executados. Depois, foi a vez dos belgas tomarem conta do palco principal. Como sempre, o Aborted fez o show em seu estilo perigoso, graças ao seu death metal letal já bastante conhecido. A ambientação deles foi totalmente diferente do que havia sido visto até então e pareceu que o Aborted destruiu todas as barreiras. Não tem como controlar a velocidade com um set com tantas bombas poderosas. O frontman Sven De Caluwe domina o seu público com força e confiança.

Vader (foto: Fabiola Santini)

Ainda havia mais coisa boa vinda da Bélgica no Studio com os veteranos do Enthroned. A atmosfera era obscura e estranhamente penetrante, a banda fez um show alucinante: seu próximo álbum, Sovereigns, que sairá em 15 de abril, definitivamente, merece que todos fiquem de olho. Os poloneses do Vader continuaram com sua tradição e, olhando para o incontrolável mosh-pit que ficava mais rápido e violento a cada faixa, é evidente que eles se estabeleceram como a banda mais turbulenta do dia. Vindo da Áustria com sua habitual ira apaixonante, o Belphegor é escuridão pura, com as carcaças no palco invocando o mal. Quando o frontman Helmuth Lehner surgiu no palco, o público saudou a banda com ardor contagiante, que só aumentava a cada faixa.

Belphegor (foto: Fabiola Santini)

Estava ficando tarde e a empolgação pelo show do headliner da noite aumentava e muitos não queriam que o Blastfest terminasse. Os britânicos do My Dying Bride mostraram grande estilo com a voz sensual do vocalista Aaron Stainhorpe que abraçava a plateia com uma luxúria intoxicante. Faixas como The Raven and the Rose e She Is the Dark deram a definição e o prestígio ao set perfeito. No Studio, os alemães do Obscura deram ao Blastfest 2014 um magnífico adeus, com seu incrível death metal técnico que o guitarrista Christian Münzer marca com habilidades respeitáveis e vigor.

My Dying Bride (foto: Fabiola Santini)

Claramente, o Blastfest conseguiu se estabelecer nos corações dos fãs: depois de um bem-sucedido começo em 2014, todos já estão ansiosos e comentando sobre a edição de 2015.